Editorial: se não enxerga o genocídio Yanomami, você deixou de ser humano e cristão

 

“Não é a primeira vez que o Povo Yanomami sofre as consequências daquilo que o Papa Francisco chama de uma economia que mata, uma realidade muito presente na querida Amazônia… A gente fica estarrecido com as reações de pessoas que se dizem gente, inclusive de cristãos, de católicos, que na verdade nunca entenderam o que significa a fé no Deus encarnado”.

Editorial, por Luis Miguel Modino*

missionáriosNegar aquilo que nos incomoda, as situações desumanas, os graves pecados contra os descartados, não minora o que eles representam. O sofrimento dos povos indígenas é uma constante no Brasil desde que em 1500 Pedro Alvares Cabral chegou na chamada Costa do Descobrimento.

Mais de 500 anos de cenas que muitos consideram normais, como algo que faz parte da vida e da história, mas que outros consideram ou consideramos vergonhosas, situações que colocam em questão a própria condição humana, que nos animalizam, deixando para trás uma atitude que pode ser considerada o elemento primeiro para considerar que alguém é humano: a compaixão.

Também é a compaixão aquilo que define o Deus cristão, Ele é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor. Por isso podemos dizer que só quem vive a compaixão com aquele que está tirado na beira da estrada é cristão. Se alguém não faz isso pode ser chamado de fariseu, de mestre da Lei, mesmo que se empenhe em dizer que Deus está acima de tudo.

Não é a primeira vez que o Povo Yanomami sofre as consequências daquilo que o Papa Francisco chama uma economia que mata, uma realidade muito presente na querida Amazônia. Mas o acontecido recentemente clama aos céus, saber que ao menos 570 crianças menores de 5 anos morreram nos últimos 4 anos só pode ser definido com uma palavra: genocídio. Numa população de 38 mil pessoas, essas 570 crianças representam uma porcentagem elevadíssima, colocando em risco a sobrevivência desse povo no futuro.

Ainda mais quando essa situação é consequência do descaso de um governo empenhado em matar os índios, em acabar com eles para poder dispor daquilo que seus ancestrais guardaram secularmente, a casa comum. O lucro de uns poucos colocado acima de uma sociedade e uma cultura ancestral para beneficiar quem nunca se preocupou com o cuidado da vida.

A gente fica estarrecido com as reações de pessoas que se dizem gente, inclusive de cristãos, de católicos, que na verdade nunca entenderam o que significa a fé no Deus encarnado, no Deus que está no meio de nós, naquele que está doente, que está nu, que está com fome e com sede, naquele que sofre, que se tornou vítima pela falta de humanidade e de ser cristão dos outros.

É tempo de parar e pensar, de nos questionarmos como sociedade e definir os caminhos a seguir. Será que vamos escolher a vida ou vamos ficar com o lucro? Será que vamos defender os descartados ou vamos nos somar ao grupo dos que defendem o lucro acima de tudo? Aprendamos com aqueles que realmente nos ensinam o que vale a pena: ser humanos e acreditar no Deus encarnado.

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*Confira agora o editorial com o padre Luis Miguel Modino – missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB