Editorial: A Igreja da Amazônia não defrauda aos missionários

É tempo de sair de nós, dos nossos lugares de conforto, das realidades que controlamos, para ir ao encontro daqueles que esperam essa palavra, esse testemunho que os faça enxergar esse Deus que está no meio de nós, no meio deles. Não tenhamos medo, nossa vida é missão e é nela que vamos encontrar esse Deus que nos faz plenamente felizes.

Por Luis Miguel Modino*

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A missão alegra o coração de todo batizado, uma alegria que brota do povo, que ao acolher o Evangelho expressa alegria e gratidão, sentimentos que quem vai em missão agradece. A I Experiência Vocacional Missionária Nacional, realizada na Arquidiocese de Manaus, na Prelazia de Itacoatiara e na Diocese de Coari, acolheu 280 missionários e missionárias de todos os cantos do Brasil, uma mistura de sotaques, de raças, de modos de viver a fé.

O que foi expresso no final dos dias de missão pela grande maioria dos participantes mostra que foi uma experiência que superou suas expectativas, que os missionários e missionárias não se sentiram defraudados. De fato, as avaliações dizem que foram dias de encontro, sustentando na interculturalidade, a escuta, o anúncio, o aprendizado. Uma experiência que tem provocado admiração, encantamento, gratidão, superando assim o cansaço de chegar até lugares de difícil acesso.

Conhecer a realidade nos ajuda a superar preconceitos, muitas vezes presentes na mente da gente, também em relação à Amazônia, uma região e um povo desconhecido para muitos brasileiros e brasileiras, influenciados pelo que ouviram dizer. Chegar nos lugares com os sentidos atentos nos ajuda a abrir o coração e sentir com o espaço e as pessoas, com tudo o que faz parte daquele habitat.

A Amazônia encanta pela sua beleza, mas acima de tudo encanta pelas pessoas que nela vivem, sinal de uma acolhida generosa. Uma experiência de vida partilhada que nos ajuda a crescer, a olhar para o outro como sinal de fraternidade. Um território que encanta pelo modo de ser do povo, por uma religiosidade que brota do chão, da vida das pessoas mais simples, que desde a fé superam as dificuldades, testemunhando a presença de um Deus encarnado.

Como não sentir o desejo de ir em missão, de ir ao encontro diante dessa realidade? Como não querem partilhar a vida e a fé com pessoas que tanto nos enriquecem com seu jeito de entender a vida e de experimentar a presença de Deus no meio deles? Um povo aberto e receptivo, solidário diante da necessidade alheia. Um povo que faz realidade uma Igreja que concretiza aqui e agora a Boa Nova de Evangelho.

A missão parte da encarnação, o testemunho missionário só é válido quando se tem os pés no chão, fincados na vida concreta, quando não esquece o lugar, o momento e os destinatários desse testemunho, que nasce de Deus e que quer conduzir até Deus àqueles que sentem necessidade dele em suas vidas. Sempre desde o serviço, um serviço gratuito, a exemplo do próprio Deus que dá tudo em troca de nada.

É tempo de sair de nós, dos nossos lugares de conforto, das realidades que controlamos, para ir ao encontro daqueles que esperam essa palavra, esse testemunho que os faça enxergar esse Deus que está no meio de nós, no meio deles. Não tenhamos medo, nossa vida é missão e é nela que vamos encontrar esse Deus que nos faz plenamente felizes.

*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB