Editorial: Mulheres missionárias centenárias

“O testemunho de vida destas missionárias deve nos levar a refletir como Igreja, mas também como sociedade, e assim sentir a necessidade de sair de nossos lugares de conforto para ir ao encontro daqueles que precisam de nós.”

Editorial por Luis Miguel Modino*

genocídio Yanomami

Na evangelização da Amazônia, a coragem das mulheres sempre foi decisiva. Sua presença nos locais mais longínquos se tornou uma constante na caminhada da Igreja na região. Ao completar-se 100 anos da presença das Filhas de Maria Auxiliadora, das Salesianas, no Alto Rio Negro, ainda hoje um dos locais de mais difícil acesso na região amazônica, a gente só pode ter um sentimento de gratidão e admiração.

As salesianas chegaram em São Gabriel da Cachoeira em 1923, seguindo os passos de seus irmãos de carisma, os salesianos, que lá estavam desde 1915. Uma viagem que vista hoje poderia ser considerada uma loucura, mas que na verdade respondia ao apelo do Evangelho, onde Jesus envia seus discípulos e discípulas em missão até os confins do mundo. E podemos dizer que um lugar onde a viagem demorava 39 dias desde Manaus poderia ser considerado um desses locais onde essas seguidoras de Jesus e da Madre Mazzarello, estavam sendo chamadas.

Assim iniciou uma presença que foi se espalhando por todos os cantos da Cabeça do Cachorro, chegando nas fronteiras e aprendendo a conviver com realidades e culturas diferentes. Uma presença evangelizadora, especialmente no campo da educação e da saúde, mas também do trabalho pastoral, se tornando uma presença samaritana na vida dos povos indígenas.

A história nos mostra a entrega de mulheres que ao longo de décadas gastaram sua vida nessa presença de cuidado, em que tantas crianças, adolescentes e jovens, mas também adultos, foram entendendo quem era esse Deus diferente que chegava com as Filhas de Maria Auxiliadora. Um testemunho de vida que foi cativando o interesse de muitas jovens que hoje são salesianas, dando um novo rosto, um rosto indígena, na congregação. Um antecipo daquilo que o Sínodo para a Amazônia chama de uma Igreja com rosto amazônico e indígena.

Um trabalho que mais nunca parou e que hoje continua com uma presença numerosa nos três municípios que forma parte do Alto Rio Negro, da Diocese de São Gabriel da Cachoeira: Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Uma presença que foi perpassando a vida de diversas gerações de homens e mulheres de diferentes povos indígenas.

O testemunho de vida destas missionárias deve nos levar a refletir como Igreja, mas também como sociedade, e assim sentir a necessidade de sair de nossos lugares de conforto para ir ao encontro daqueles que precisam de nós. As efemérides são uma boa oportunidade para isso, para olhar para atrás e agradecer, mas também para olhar para frente e não ter medo dos desafios a serem enfrentados.

Que essas mulheres apaixonadas pela missão nos levem a superar os medos e assumir com coragem aquilo que Deus e a Igreja esperam de cada um e cada uma de nós. É tempo de superar os medos e entender que nesse mundo das águas podemos saciar nossa sede de Deus e de um mundo melhor para todos e todas.

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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB*