Editorial: Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, uma pandemia que mata sonhos

grito pela vidaPor Luis Miguel Modino*

1.557 crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual em Manaus de abril de 2021 até abril de 2022. O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o 18 de maio, deveria nos levar a tomar consciência de um crime cruel que marca a vida da pessoa desde os primeiros anos e faz com que as sequelas se torem uma lembrança que a acompanha e condiciona toda a vida.

Mesmo sendo um número alto, todos sabemos, ou deveríamos saber, que as vítimas são muitas mais, que o medo em denunciar ainda está muito presente. São muitos os fatores que fazem com essas denúncias não aconteçam, dentre elas as ameaças dos abusadores, quase sempre pessoas próximas, inclusive do entorno familiar, o que condiciona gravemente o combate desse crime.

Uma criança abusada vai perdendo a capacidade de sonhar, inclusive de viver em plenitude, vai se apagando sua alegria e se tornando alguém de quem a tristeza, o choro, a desolação, vai tomando conta. A criança vai perdendo o direito a viver com dignidade, a ter sua sexualidade respeitada, e isso é algo que a sociedade não pode tolerar.

18 de maio é o dia do Faça Bonito, um dia para tomarmos consciência da necessidade de mudar essa realidade, de dizer não, alto e forte, ao abuso e exploração de crianças e adolescentes, de denunciar, de mudar uma realidade cruel que não pode ser mais ignorada nem justificada, de jeito nenhum.

Cobrar políticas públicas que ajudem no combate desse crime se torna uma necessidade urgente, ainda mais em um país onde o cuidado com os vulneráveis parece ter perdido o interesse daqueles que conduzem seus destinos. Sem investimento em políticas de proteção, de fiscalização, de educação, se torna cada vez mais difícil combater esse crime.

Diante disso, cada um de nós, mas todos juntos como sociedade, somos desafiados a nos questionarmos: o que estou disposto fazer para combater a exploração sexual de crianças e adolescentes? Até que ponto estou disposto a me involucrar para acabar com um crime que condiciona gravemente a vida das crianças e adolescentes, das famílias? Sou consciente que esse não é um problema dos outros, das vítimas, mas também meu?

Só quando a gente para e pensa nas consequências das nossas ações ou omissões podemos tomar consciência daquilo que representam as nossas atitudes. Ficar de braços cruzados nunca pode ser a solução, olhar para o outro lado nunca pode ser o caminho, fazer de conta que não tenho nada a ver com isso é uma atitude covarde que nos desumaniza.

Mesmo hoje, sendo 19 de maio, tenha consciência que essa é uma luta de todos os dias, que na medida em que eu me envolva, eu posso salvar a vida de alguém, de uma criança, de um adolescente. Vamos combater, vamos denunciar, vamos fazer bonito, fazer realidade um mundo melhor para todos e todas, especialmente para nossas crianças e adolescentes. Será que eles podem contar com você?

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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB