“Não podemos fechar os olhos, fazer de conta que essa realidade, esse crime não tem nada a ver comigo. No final das contas quem cala, consente, e em certa medida se torna cúmplice. O Dia instituído pelo Papa Francisco é mais uma oportunidade para pensar nas pessoas, para nos colocarmos na pele das vítimas, para rezar e nos comprometermos”.
Editorial por Luis Miguel Modino*
Muitas vezes a gente se pergunta se ainda somos humanos. No final das contas, o que nos faz humanos é a disposição para demostrar misericórdia, compaixão, cuidado do outro. Ontem, 8 de fevereiro, na festa de Santa Bakhita, a Igreja católica celebrou pelo nono ano o Dia de Oração e Reflexão Contra o Tráfico de Pessoas, uma data instituída pelo Papa Francisco.
Ver como 50 milhões de pessoas no mundo são vítimas das redes de tráfico humano tem que nos levar a nos questionarmos sobre o nosso grau de humanidade. Mesmo que a gente faça de conta que não sabe de nada, estamos diante de uma realidade muito próxima de nós. As vítimas estão aí, ao lado da gente e isso deveria nos levar a pensar, a cuidar daqueles que podem se tornar alvo das redes de tráfico humano.
Como sociedade e como Igreja somos desafiados a tomarmos consciência e assumirmos a responsabilidade de combater um crime que provoca dor, sofrimento e morte, especialmente nas pessoas mais vulneráveis, que se tornam vítimas potenciais das redes de tráfico de pessoas.
Qual é minha responsabilidade pessoal no combate ao tráfico humano? O que nossa Igreja, minha comunidade deveriam fazer para que esse crime possa desaparecer? As vítimas do tráfico humano se fazem presentes na minha oração, rezamos como Igreja, como comunidade para que essa realidade que provoca tanta dor possa ser superada e as pessoas deixem de se tornar vítima do tráfico?
Não podemos fechar os olhos, fazer de conta que essa realidade, esse crime não tem nada a ver comigo. No final das contas quem cala, consente, e em certa medida se torna cúmplice. O Dia instituído pelo Papa Francisco é mais uma oportunidade para pensar nas pessoas, para nos colocarmos na pele das vítimas, para rezar e nos comprometermos.
O que eu vou fazer daqui para frente? Como quero me comprometer para mudar a realidade? Nas perguntas e no fato de querer responder a essas perguntas está o desejo de mudar a realidade, de que essa realidade possa mexer comigo e me levar a ter um olhar diferente. O mundo muda quando eu estou disposto a fazer o que estiver na minha mão para que isso aconteça.
Fiquemos do lado das vítimas, das crianças, adolescentes e mulheres que hoje são exploradas sexualmente nos garimpos da nossa Amazônia, dos homens e mulheres escravizados nas fazendas, nas carvoarias, em tantos espaços onde os direitos foram esquecidos e a vida clama em meio a tanta dor e sofrimento.
É tempo de agir, de escolher o lado, de dizer não a um sistema que despreza as pessoas, tirando seus direitos e sua dignidade. É tempo de dizer que o direito a viver em plenitude tem que ser universal e de mostrar que só é gente, só é humano quem trata o outro como ser humano com todos os seus direitos.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB