Secretário sugere aproveitar alimentos descartados no lixo para combater insegurança alimentar

A cidade de Manaus possui 70% da população em insegurança alimentar, ou seja, 1,5 milhão de pessoas não têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente. É quase o dobro da quantidade registrada antes da pandemia. Em 2019, eram 43% dos manauaras nessa condição.

Os dados foram apresentados durante audiência pública na Câmara de Manaus para discutir alternativas de reduzir o desperdício de alimentos nas feiras da capital, como frutas e legumes.

Entre as soluções apresentadas pelo Secretário Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal Renato Júnior, uma delas chamou a atenção.

“Aproveitar antes que se misture o que não está 100% estragado em alimentação humana.  Você vê e está no cesto de lixo, mas se for beneficiado, esterilizado, limpo e embalado à vácuo, cortado, vai valer muito mais monetariamente do que o produto na prateleira em bom estado”, afirmou.

O secretário sugeriu utilizar o material para alimento humano, produção de ração animal e geração de energia. A proposta seria instalar uma feira ecológica, de modo que o feirante faça o descarte em local correto e fique isento da taxa mensal pelo uso do espaço. O município pretende contratar uma empresa para fazer esse serviço.

O vereador Caio André, que propôs a audiência púbica, endossou o discurso, e incentivou a doação de alimentos por feirantes.

“Eles têm até medo de doar os seus produtos com medo de serem penalizados, por os produtos estarem fora do prazo de validade ou já com aspecto de decomposição, mas ainda tem seus valores nutricionais, mas ainda podem ser aproveitados ou para alimentação, adubo ou, em último caso, para que seja transformado em energia”, afirmou.

O coordenador do programa estadual de combate ao desperdício de alimentos, Carlos Henrique Conceição, participou da Audiência Pública e explicou que é preciso agir antes que os alimentos cheguem no lixo.

“Em cima da sua fala, o nosso trabalho vai antes da mistura no caminhão de lixo e dá muito trabalho porque a gente precisa mudar a mentalidade, a gente precisa conversar com o feirante e sensibilizar o feirante, porque depois que esse material está misturado no caminhão de lixo, aí é só compostagem, não dá para fazer mais nada. Então a gente tenta evitar que esse descarte de produtos chegue no caminhão de lixo”, diz.

No ano passado, foram arrecadadas 50 toneladas de frutas e legumes em feiras, que alimentaram cerca de 24 mil pessoas em instituições cadastradas pelo programa Mesa Brasil.  A projeção para 2021 é passar de 60 toneladas, o equivalente a duas carretas cheias desses alimentos.

Essa quantidade poderia ser até 5 vezes maior, caso todos os feirantes fizessem a triagem dos alimentos para doação.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar