O que tem que acontecer para levar a sério o COVID-19?

Diariamente a gente se depara com decisões irracionais da parte dos nossos governantes, cegados pelo Deus dinheiro, que definitivamente, no Brasil, é muito mais importante do que a vida das pessoas, sobretudo se essas pessoas são pobres. Já passou da hora de procurar alternativas como sociedade, de enfrentar a realidade que estamos vivendo.

Editorial por Luis Miguel Modino*

Resulta inexplicável a atitude que boa parte da população brasileira está tendo em referência ao COVID-19. São muitos os que estão pensando que a pandemia é coisa que está acontecendo em outro planeta. Também pode ser que o Brasil conte com um número de atletas, que segundo o presidente são imunes à doença, além dos que poderíamos pensar.

Se a gente vê os números oficiais, claramente subnotificados, como pode ser comprovado pelo incremento do número de sepultamentos em Manaus, que no mês de abril quase triplicou os números de abril de 2019, no Brasil, no dia 7 de maio, o número de contagiados superou as 135 mil pessoas, e os óbitos já estavam em 9.188. Diante disso, os despropósitos só aumentam. Diariamente a gente se depara com decisões irracionais da parte dos nossos governantes, cegados pelo Deus dinheiro, que definitivamente, no Brasil, é muito mais importante do que a vida das pessoas, sobretudo se essas pessoas são pobres.

Numa sociedade onde muitas pessoas são vistas como eslabões de uma cadeia que não pode quebrar, na verdade já está mais do que quebrada, estamos vivendo situações que só provocam que a dor e o sofrimento do povo aumentem. Se alguém duvidava, a pandemia do COVID-19 tem deixado bem claro quem é que manda no mundo, especialmente no Brasil, esse capitalismo que mata, que nos diz o Papa Francisco, que sempre matou e agora mata com mais crueldade, se tornando uma amostra do sadismo que está presente em tanta gente.

Cabe a gente ajudar os outros a tomar consciência da realidade, começando por aqueles que fazem parte do nosso círculo mais íntimo de relacionamento, nossa família, nossos vizinhos. Só desse jeito vamos poder fazer realidade uma mudança de comportamento na população. Quando aqueles que deveriam cuidar do interesse geral da população, que são os políticos, e defender os direitos universais, e o primeiro direito é o direito à vida, não fazem isso, devemos procurar mecanismos alternativos, que devem ser promovidos desde a base, gerando estratégias de solidariedade que ajudem a combater o individualismo, cada vez mais presente num país em que o salve-se quem puder tem se tornado um slogan cada vez mais gritado pelas camadas mais favorecidas da sociedade.

O negacionismo não pode ser assumido como uma atitude comum, pois na medida em que a gente participa e difunde tudo isso, que contraria o grado mais elementar de inteligência, estamos levando muitas pessoas para a morte. Além disso, o que o Brasil está mostrando como país, e isso tem se tornado capa de jornais no mundo todo é uma clara incapacidade de enfrentar esse tipo de situação, provocando um isolamento internacional cada vez maior, que deve ter consequências graves em meio e longo prazo.

Já passou da hora de procurar alternativas como sociedade, de enfrentar a realidade desde a situação real que estamos vivendo. Podemos dizer abertamente, mesmo que os que mandam não queiram assumir essa realidade, que estamos diante do momento mais grave na história do Brasil nas últimas décadas. Negar os problemas, jogar a culpa nos outros, não querer assumir a responsabilidade que cabe a cada um, não resolve nada, só piora as coisas.

Ninguém pode ficar por fora dessa realidade, temos que levar a sério uma situação que só vai ser resolvida se todos nos empenharmos nisso. Numa sociedade democrática todos temos direitos e obrigações, e é por isso que não podemos ficar olhando para o outro lado, fazendo de conta que isso não é com a gente. Só desde a responsabilidade e sacrifício de cada um e cada uma, vamos ter a possibilidade de superar este momento. Deixá-lo para amanhã vai ter um custo muito alto, principalmente em vidas humanas. Não espere que a coisa piore ainda mais, gente responsável pode se tornar um exemplo a seguir pelos outros, e isso depende de mim.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.