Editorial: Fome e sede numa sociedade que perdeu a vontade de gritar e lutar por um mundo melhor

Estou com fomeEditorial por Luis Miguel Modino*

Em um país onde o grito dos pobres e dos pequenos quer ser apagado, a Igreja católica, junto com outras organizações, realiza desde 1995 o Grito dos Excluídos, que neste ano de 2023, lembrando de novo que a vida está em primeiro lugar, lança a pergunta: “Você tem fome e sede de que?”.

Milhões de brasileiros e brasileiras tem fome e sede de muitas coisas, mas também podemos dizer que muitos vivem de barriga cheia, sem olhar para aqueles que passam necessidade, aqueles que sofrem as consequências de uma sociedade desigual, para aqueles que sonham em plural diante do individualismo que se tornou uma realidade cada vez mais presente, que dificulta a construção de um mundo melhor para todos e todas.

Seria bom que cada um e cada uma de nós se fizesse algumas perguntas: Realmente eu me preocupo com aquilo que acontece na vida do outro? Quero ajudar a ter uma vida melhor, com mais sentido, àquele que sofre por diferentes motivos? Cultivo sentimentos coletivos na minha vida que me levam a sonhar junto com os outros? Abro meus sentidos para escutar, enxergar, gritar com os outros em vista de uma sociedade mais justa e solidária?

O Papa Francisco nos desafia a ser uma Igreja em saída, que se faz presente nas periferias geográficas e existenciais, uma Igreja que não tem medo de se enlamear para acompanhar a vida do povo que sofre cada dia diante de múltiplas necessidades que vive em seu cotidiano. Uma Igreja que deixe de ser autorreferencial, de se olhar o umbigo.

Não podemos ser cristãos de boca e ouvidos fechados, desentendidos do que acontece fora das quatro paredes do templo, pois a gente acredita no Deus encarnado, no Deus que se faz gente e se torna companheiro de caminho, que quer estar no meio de seu povo, no Deus que em Jesus grita diante das dores e injustiças que fazem parte da vida das pessoas.

É tempo de perder o medo, de deixar de ser comunidades passivas, indiferentes, sem solidariedade para com o outro, para com aquele que nunca contou e nunca vai contar para os outros. Precisamos de uma Igreja cada dia mais comprometida, um compromisso que nasce do amor concreto que se faz caridade, que gera vida para aqueles que nunca viveram em plenitude.

Gritemos juntos e juntas, como Igreja e como sociedade, acompanhemos a caminhada de tantos brasileiros e brasileiras que tem fome e sede, que sentem a necessidade em sua pele e que esperam uma mão amiga que os ajude a fazer realidade esse mundo melhor com o qual todos nós deveríamos sonhar e lutar para concretizar no meio de nós.

Ouça este editorial em áudio:

*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB