Carta pública cobra responsabilização pelo massacre no Rio Abacaxis

Trinta e quatro instituições, entre elas a Arquidiocese de Manaus, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) Regional Norte 1 assinaram uma carta pública (Confira a carta sobre memória do massacre no Rio Abacaxis) para cobrar a responsabilização pela morte de 8 pessoas e desaparecimento de outras 2 no massacre do Rio Abacaxis durante uma operação policial, em agosto de 2020. O texto faz referência ao ex-secretário de Segurança Pública Louismar Bonates e pede a saída do Comandante da Polícia Militar, Cel Ayrton Norte.

“Foi organizada uma operação com fortes suspeitas de ilegalidade. Acredita-se que o ex-Secretário usou de suas relações institucionais para convocar uma operação do Comando de Operações Especiais (COE) e do Batalhão Ambiental da Polícia Militar, sob o pretexto de desarticular uma organização criminosa, de combate ao tráfico de drogas”, consta no documento.

Uma Celebração Ecumênica lembrou as vítimas no Rio Abacaxis e lançou a carta pública. Foto: Macildo Ribeiro

O documento foi elaborado por um Coletivo Organizado da Sociedade Civil e apresentado durante uma Celebração Ecumênica nessa quarta-feira (04) no Sares (Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental), em Manaus.

“Foi perceptível que, desde a operação inicial, o objetivo nunca foi a busca por traficantes, ou por justiça, mas por VINGANÇA. Os dias que seguiram, daquele
mês, foram marcados por fome, sede, humilhações, prisões ilegais, torturas, assassinatos e diversas outras violações de direitos humanos”, diz outro trecho do documento.

Ao todo, oito pessoas morreram, sendo dois policiais militares, indígenas e ribeirinhos. Foto: Macildo Ribeiro

A carta menciona que os impactos secundários são alarmantes.  ” As comunidades relatam o aumento significativo da violência e a expansão do tráfico. Invasões ilegais de madeireiros, caçadores, pescadores predatórios e garimpeiros também cresceu de forma dramática, em especial nas terras indígenas da área. Aliadas à omissão do Governo Federal, quanto a falta de demarcação e proteção, essas situações rumam ao completo descontrole”.

O documento cita ainda que, durante o Seminário pelo 1 ano do massacre, era esperada uma posição mais sólida e respostas mais objetivas quanto ao andamento das investigações, mas a Polícia Federal, o Ministério Público Federal da área criminal e a Funai não participaram.

“Alertamos, gritamos, que o silêncio, a morosidade e a omissão, farão o Estado, mais uma vez, responsável pela nova chacina que está por vir. Pelas mãos
de vocês, agentes estatais, pode correr mais sangue inocente naquela região”.

A carta finaliza com oito demandas às instituições públicas para avanço nas investigações e suporte às famílias. Também é solicitada apuração da responsabilidade do Governador do Estado, Wilson Lima, pela operação policial.

O Padre Paulo Barausse, Coordenador do Sares, participou da Celebração Ecumênica. Para ele, o massacre foi uma “ação desmedida e poderia ter sido evitada” e o Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana Marcos Rodrigues destacou a importância de união de esforços para buscar justiça.

Ouça na reportagem:

O Coletivo Organizado da Sociedade Civil vai fazer um pedido formal de audiência pública ante a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar