A pandemia do Tráfico de Pessoas e da violência contra as mulheres

Editorial por Luis Miguel Modino*

A violência contra as mulheres é “uma covardia e uma degradação para toda a humanidade”. Quem diz isso é o Papa Francisco no vídeo com que todo mês difunde sua intenção de oração. Neste mês de fevereiro, ele pede para rezar pelas mulheres vítimas de violência, pois “hoje segue havendo mulheres que sofrem violência, violência psicológica, violência verbal, violência física, violência sexual”.

Na próxima segunda-feira, 8 de fevereiro, no dia em que a Igreja católica celebra a festa de Santa Bakhita, uma escrava africana que depois se tornou religiosa na Itália, acontece o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, que na sua 7ª edição, nos leva a refletir sobre o tema “Economia sem tráfico de pessoas”.

Estamos diante de uma grande oportunidade para refletir sobre o modelo econômico dominante, uma das principais causas do tráfico de pessoas. Não podemos esquecer que os lucros anuais decorrentes do tráfico no mundo são 150,2 bilhões de dólares, dois terços dos quais são provenientes da exploração sexual. Neste tempo de pandemia da Covid-19, a pandemia do tráfico de pessoas, da exploração sexual e da violência contra as mulheres, que são realidades muito presentes na sociedade mundial, também na Amazônia, têm sido agravados.

Nesse modelo econômico, onde na mente de muita gente tudo pode ser comprado e vendido, sempre que isso gere lucros, e a gente não pode esquecer que estamos diante de um crime que gera altos lucros, as pessoas são vistas como mercadorias, sendo submetidas pela especulação financeira e pela concorrência. Diante disso, o Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti nos diz que “o direito de alguns à liberdade de empresa ou de mercado não pode estar acima dos direitos dos povos e da dignidade dos pobres” (FT 122).

Se faz necessário mudar o sistema econômico global, e para isso tem que ser assumida uma visão “estrutural e global” do tráfico de pessoas, que ajude a desequilibrar todos aqueles mecanismos perversos que alimentam a oferta e a procura de “pessoas para explorar”. A reflexão sobre esse sistema econômico nos leva a entender que é o coração de toda a economia que está doente. Trata-se de uma economia onde tudo é dominado pelo preço dos produtos, onde as empresas se tornaram vítimas de uma lógica em que cada vez mais, a empresa é valorizada pelo preço das suas ações no mercado financeiro e não pelo valor acrescentado gerado pelo seu capital humano.

Não podemos esquecer que são os pobres as maiores vítimas do tráfico de pessoas, muitas vezes em consequência de falta de oportunidades no âmbito local, o que é aproveitado pelas máfias, que com falsas promessas conseguem aliciar as vítimas. Diante dessa realidade, a mesma encíclica nos diz que “a superação da desigualdade requer que se desenvolva a economia, fazendo frutificar as potencialidades de cada região e assegurando assim uma equidade sustentável” (FT 161).

Reflitamos sobre essa realidade, mas também sobre a violência contra as mulheres, pois “o número de mulheres espancadas, ofendidas e violadas é impressionante”, nos diz o Papa Francisco no vídeo. São muitas as mulheres que lançam “um grito de socorro que não podemos ignorar. Não podemos olhar para o outro lado”. É mais uma pandemia que provoca morte e sofrimento, que precisa de cada um de nós para ser superada. Rezemos juntos com o Papa Francisco.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.