Relatório do DNIT indicava decomposição do concreto um dia antes de desabamento na BR-319

Um relatório entregue pela superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no Amazonas ao Ministério Público Federal (MPF) mostra que uma vistoria realizada no dia 27 de setembro identificou decomposição e degradação do concreto da Ponte do Rio Curuça, na BR-319. No dia seguinte, em 28 de setembro, a estrutura desabou e deixou quatro mortos e um desaparecido.

PONTE CURUÇÁ BR-319 relatório

A mesma inspeção constatou “situação crítica” nos bueiros na cabeceira da ponte e alertou para o risco de “graves acidentes aos navegantes que trafegam no Rio Curaçá, bem como aqueles que trafegam pelo BR-319 neste trecho”.

Após a vistoria, os engenheiros recomendaram isolamento da faixa de tráfego onde a galeria estava estourada e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi requisitada para ordenar o trânsito e a velocidade no local, pois havia risco de que o tráfego pesado e em alta velocidade danificassem ainda mais as aduelas e tombassem os pilares da cabeceira da ponte.

Os inspetores ainda aconselharam a utilização de pranchas metálicas para que o tráfego não fosse interrompido, em caso de piora da estrutura. O relatório alertou ainda “que estes serviços deveriam ser priorizados o mais breve possível, tendo em vista o início do período chuvoso na região.

Na avaliação dos engenheiros, era preciso aterrar de forma gradual o bueiro do lado esquerdo, com compactação de camadas, além de escorar os pilares junto a face lateral do mesmo bueiro, pois o solo estava empurrando o pilar da ponte.

Por fim, naquele dia 27 de setembro, a vistoria indicou a necessidade de um novo projeto aprofundado de recuperação estrutural da ponte, um novo bueiro duplo ou triplo e a devida laje de transição em ambas as cabeceiras.

Conforme o relatório, com a força da correnteza do rio, também ocorreu erosão no fundo do rio, o que é um fenômeno cujos efeitos sobre uma ponte podem resultar em danos significativos e até no colapso estrutural da obra.

Questionado pelo MPF se a empresa contratada para manutenção e fiscalização do trecho tinha contrato em vigor na data do desabamento, o DNIT disse que não. 

Contrato

A autarquia disse que a empresa AGO Engenharia de Obras Ltda foi contratada de forma emergencial. O valor foi de quase R$ 38 milhões, mas o contrato vigorou apenas entre 1º de fevereiro e 30 de julho deste ano e foi encerrado com apenas 36% das obras executadas. Por esses serviços, o DNIT afirma que a empresa recebeu R$ 13,4 milhões.

O MPF também perguntou ao DNIT se o órgão identificou algum risco de desabamento na área do desabamento e o DNIT respondeu que não, apesar de o relatório do dia 27 de setembro identificar “situação crítica” dos bueiros da cabeceira da ponte.

Agora, o MPF avalia os documentos para definir quais serão os próximos passos das investigações.

Bruno Elander – Rádio Rio Mar

Foto: Divulgação