Editorial Por Luis Miguel Modino*
Existem diferentes formas de entender a vida, tem que a vive como resposta a uma vocação, a um chamado, mas também tem que a vive sem saber muito bem o que pode acontecer amanhã, sem querer lembrar do que ele fez a semana passada. Quando a gente procura no dicionario, descobre que vocação é a “ação ou efeito de chamar, de invocar, de denominar(-se)”. Também pode ser entendido como a “tendência ou inclinação natural que direciona alguém para uma profissão específica, para desempenhar determinada função, para um trabalho”. Uma outra acepção é aquela que a vê como “orientação ou apelo ao sacerdócio ou à vida religiosa”. Junto com isso, pode ser vista como “capacidade ou interesse natural por quaisquer coisas – talento, como aptidão natural”.
Na Igreja católica, no mês de agosto, é celebrado o mês vocacional, e diante disso a gente deveria refletir sobre um elemento chamado a estar presente em toda vocação, nem só no plano religioso, que é o chamado a servir, a cuidar. O serviço, uma atitude muito diferente do desejo de se servir, se torna um elemento decisivo para poder fazer realidade aquilo que todo mundo deveria ter como objetivo fundamental na vida, fazer realidade um mundo melhor para todos e todas.
A gente deveria se perguntar o que é que faz que a gente se realize, o que faz a gente desfrutar da vida, porque a melhor vocação é aquela que nos leva a ser felizes, mesmo que a gente passe a vida toda fazendo aquilo que muita gente não encontra graça em fazer ou faz por obrigação. Nunca esqueçamos que quando a gente é feliz, contagia felicidade naqueles com quem a gente convive. Ao mesmo tempo, poucas coisas nos fazem mais felizes do que ver que a gente fez o outro ficar feliz.
Diante de uma sociedade onde muita gente se aproveita dos outros, algo que inclusive se manifesta em tempos de extrema gravidade e necessidade, como o que a humanidade está vivendo neste tempo de pandemia, somo chamados a cultivar elementos que ajudem a pôr em pratica a vocação ao serviço, a procurar sempre o bem comum. Que neste tempo de pandemia os mais ricos fiquem ainda mais ricos, não fala muito bem da humanidade, ainda mais quando a gente sabe que sua riqueza é fruto da pobreza daqueles que menos tem.
Deveríamos desterrar da vida dos seres humanos todo desejo, isso não é vocação, de egoísmo, de pensar só em se próprio, na pequena panelinha que temos em volta. Isso tira de nós a racionalidade e aumenta a animalidade. Mas será que o ambiente em que a gente vive, a realidade que temos em volta, nos ajuda nesse sentido? Mesmo assim, o grande desafio é ser fermento na massa, e partindo de atitudes diferentes, mostrar que um outro mundo é possível.
O cristianismo nos faz um chamado a isso, e mesmo sabendo que nem sempre respondemos àquilo que deveria estar presente na nossa vida, se apresenta como uma alternativa muito válida, na medida em que se responde à vocação recebida no batismo, que deve ser manifestada quando a gente está na Igreja, mas sobretudo quando a gente está fora dela. O âmbito familiar, laboral, as relações cotidianas, inclusive com as pessoas com as que a gente pode se encontrar só uma vez na vida, deve ser espaço em que somos chamados a manifestar essa vocação presente dentro de cada um de nós.
A capacidade para servir está presente em todo ser humano, outra coisa é a disponibilidade, que desaparece em aqueles que só pretendem se servir, impor suas ideias, sua forma de entender a vida, que sempre tem como objetivo fundamental satisfazer suas necessidade e seu ego, sempre insatisfeito. O que fazer para combater essas atitudes? Quais são os passos que devem ser dados para que a sociedade como um todo descubra a inadiável necessidade de viver para servir, para construir, para crescer?
Ouça:
**Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.