Sete pessoas seguem internadas em Itacoatiara por rabdomiólise, a ‘doença da urina preta’

O surto de rabdomiólise registra 26 notificações, sendo 24 em Itacoatiara, 1 em Caapiranga e 1 em Manaus. A primeira morte registrada pela doença é de uma mulher de 51 anos, que foi internada na última sexta-feira e morreu na madrugada de sábado, no Hospital Regional José Mendes, em Itacoatiara. Ela é da Vila do Novo Remanso, zona rural, como explica Liane Souza, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde.

“Após ingestão de peixe, manifestou sintomas compatíveis com rabidomiólise, agravou o quadro e por volta de 2h evoluiu a óbito. Atualmente seguem internados 7 pacientes no município, todos estáveis”, afirma.

Até sexta-feira, a Fundação de Vigilância em Saúde afirmava que não havia casos graves e que o quadro clínico de todos os pacientes internados em Itacoatiara e Manaus permanecia de forma leve, mas exigia cuidados assistidos.

Sintomas 

A doença da urina preta, como é popularmente conhecida, é uma condição clínica em que há destruição aguda e maciça da musculatura esquelética, como explica o infectologista da Fundação de Medicina Tropical Dr Antônio Magela, que acompanhou os pacientes em Itacoatiara.

“Essa musculatura que a gente utiliza para realizar os nossos movimentos e que estão sob o nosso comando, a não ser o nosso músculo cardíaco, que é uma exceção. Esse é o grande risco, uma pessoa ser acometida de rabdomiólise sofrer uma grande destruição muscular e isso acabar interferindo e destruindo musculatura cardíaca, associada aos grande risco desses metabólicos, desses restos da degradação muscular acometerem o rim.”

A doença pode levar à insuficiência renal e se o paciente não for submetido à hemodiálise, pode morrer. O procedimento é especializado e realizado em Manaus.

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Geralmente, a rabdomiólise pode acometer pessoas saudáveis que sofrem traumatismos ou realizam atividade física excessiva, mas no Amazonas há a suspeita da contaminação por ingestão de alimento. As pessoas que adoeceram têm em comum a ingestão de peixe e apresentaram os sintomas de dores musculares, começando nuca e pescoço, poucas horas depois.

“Qualquer paciente que tenha dor muscular, febre, náusea, vômito e que tenha história de imediatamente antes ter ingerido peixe, que tenha uma atenção especial de serem atendidas, de serem observadas e fazerem alguns exames para confirmar ou não o risco de ser rabdomiólise”, afirmou.

O exame para identificar a doença é dosagem da enzina CPK, creatinofosfoquinase. Esse é o terceiro surto de rabdomiólise no Amazonas.

Terceiro surto no Amazonas

Também houve registros em 2008 e 2015, todos com foco em Itacoatiara, mas até hoje não há confirmação sobre a real causa da doença, assim como o surto de Doença Transmitida por Alimento pela ingestão de tucumã em Manacapuru.

O relatório do infectologista Antônio Magela sobre o surto será apresentado nesta segunda-feira e ele recomenda a criação de um grupo de pesquisa multidisciplinar para descobrir de onde vem a toxina que tem causado a doença.

“Envolvendo clínicos, epidemiologistas, nefrologistas, biólogos, botânicos, zoólogos, ictiologista (especialista em peixes), botânica, saúde ambiental porque alguma coisa precisa ter esse olhar direcionado à Itacoatiara”

O nome de “doença da urina preta” é por causa da coloração escura da urina devido o dano aos rins.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar