Sem acesso a sistema do Ibama, PF está ‘cega’ para fiscalizar madeira desde março

A Polícia Federal (PF) está ‘cega’ quanto à fiscalização da procedência de madeira desde março. A afirmação é do delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da PF no Amazonas. Segundo ele, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) tirou o acesso da PF aos sistemas de consulta há quase seis meses.

Apreensão de madeira nativa da história do Brasil, feita pela Polícia Federal na divisa do Pará com o Amazonas

“Tem um grande sistema chamado Sisdof, que agora está mudando para Sinaflor. Nós, da Polícia federal, sempre tivemos acesso ao site do Sisflor. Comparando com a questão do trânsito, é como a gente não tivesse acesso ao sistema do Detran para olhar a placa de carro. Desde março a gente está sem sistema. Desde março a gente está cego. O sistema simplesmente foi tirado do ar, não funciona mais, o que é uma bizarrice”, afirmou Saraiva, em uma rede social.

A Rádio Rio Mar consultou o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente três vezes desde o dia 02 de agosto para questionar a situação relatada pelo delegado, mas as solicitações enviadas por e-mail não foram respondidas.

Ao mesmo tempo em que enfrenta as restrições impostas pelo governo federal para fiscalizar a flora, a superintendência da PF no Amazonas investiu em um sistema que começou no Estado e, hoje, tem abrangência nacional, para monitorar a fauna e alguns casos de crimes ambientais.

Foram comprados, em janeiro deste ano, equipamentos que realizam análises de seres vivos e fazem raios-X em área de solo, ideal para minerais.

Em uma rede social, Alexandre Saraiva disse que o dinheiro seria usado para comprar para-raios e foi revertido para a compra dos equipamentos e adequação de instalações laboratoriais. O custo total foi de R$ 2,6 milhões, sendo R$ 2,5 milhões de um termo de ajuste de conduta (TAC) feito com infratores e R$ 100 mil de verba própria da PF.

O delegado Alexandre Saraiva foi afastado da superintendência da PF no Amazonas e transferido para Volta Redonda (RJ) após apresentar uma notícia-crime contra o ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles. A acusação é de que ele agiu em conluio com criminosos ambientais acusados de exploração ilegal de madeira apreendida no âmbito da Operação Handroanthus, deflagrada em dezembro do ano passado, e que resultou na maior apreensão de madeira da história do Brasil, com 214 mil metros cúbicos.

Bruno Elander – Rádio Rio Mar

Foto: Divulgação/PF