Editorial: Sair nas ruas no Dia 8 de Março é obrigação, direito ou necessidade?

Editorial, por Luis Miguel Modino*

A luta pelos direitos da mulher se tornou uma atitude cada vez mais assumida, nem só pelas mulheres, mas pela sociedade como um todo. O dia 8 de março é uma data significativa nessa batalha iniciada nos primeiros anos do século XX, sendo definida em 1975 como Dia Internacional das Mulheres, pelas Nações Unidas.

Uma data que provoca controvérsias na sociedade, que é vista como obrigação, direito ou necessidade, mas também é considerada por outras pessoas como algo desnecessário. As opiniões divergem, pois os direitos nem sempre são vistos do mesmo modo. Tem o ditado que diz que “pimenta no olho dos outros é refresco”, o que nos leva a dizer que muitas reclamações e lutas por direitos não são entendidas por aqueles que tem uma visão diferente da realidade.

Na verdade, reclamar direitos nunca foi um erro e sim uma atitude de coragem em busca de uma sociedade mais justa. Essas lutas têm construído ao longo da história aquilo que tem ajudado a modelar um mundo melhor para todos e todas. Tem sido um caminho longo, dificultoso, mas que foi dando frutos, maiores ou menores, mas com o tempo os avanços têm acontecido.

O que não deveria acontecer, mesmo que saibamos que muitas pessoas, inclusive muitas mulheres caem nessa tentação, é nos desentendermos de continuar lutando pelos direitos que em teoria são garantidos, mas que nem sempre são realizados em favor das mulheres. Ficar de braços cruzados não deve ser a atitude a ser seguida. Isso porque ninguém deve aceitar que seus direitos sejam menosprezados.

No final das contas, os direitos são fruto da luta histórica de muitas pessoas que empenharam sua vida para que assim fosse. Continuar cobrando esses direitos em nível social e político, em todos os âmbitos que fazem parte da vida social, é uma necessidade, que vai ter seus frutos em nossas vidas, mas também na vida das gerações vindouras.

O problema é que numa sociedade cada vez mais marcada pelo individualismo, onde as preocupações das pessoas não ultrapassam o próprio ego, incentivar as lutas sociais é algo cada vez mais difícil. Na maioria dos casos, não é por ser contra essas lutas e sim por falta de interesse com o que puder acontecer com os outros, inclusive com o que pode acontecer com a própria pessoa.

O desmoronamento social é uma realidade cada vez mais plausível, uma realidade que serve para que aqueles que têm o poder, nos diferentes campos em que ele se concretiza, se aproveitem para impor seu modo de entender essa realidade, que de diversos modos é manipulada por aqueles que mandam. Uma situação que nem sempre é percebida e ainda menos enfrentada.

Sermos conscientes disso, independentemente de nossa condição de mulheres ou homens, é uma urgência inadiável. As lutas devem ser mantidas sempre, nunca podem ser abandonadas. Cair nessa tentação vai fazer com que as pessoas deixem de ser tratadas como gente e passem a ser vistas como engrenagens de um sistema que nos consume.

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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB