PF não confirma fim da operação contra garimpo no Rio Madeira; especialista analisa impactos

A operação Uiara, da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança, Ibama e Forçar Armadas já apreendeu e destruiu 131 balsas utilizadas para o garimpo ilegal no Rio Madeira. Sem especificar em qual município, a assessoria de comunicação da Polícia Federal informou que as ações continuam no Amazonas e não há prazo para encerrar.

O prefeito de Borba Simão Peixoto (PP) discursou em defesa dos garimpeiros, mas orientou que respeitassem as ordens da Polícia Federal. “Se chegar Polícia Federal na balsa de vocês, peço que possam respeitar”, disse o prefeito.

Muitas embarcações são a própria residência dos garimpeiros. Um deles que saiu de Manicoré e se refugiou em Borba contou que a operação foi truculenta. “A ação foi truculenta, não deram tempo de ninguém tirar a roupa, saíram com a roupa do corpo e ficaram lá ao relento”, contou um garimpeiro.

As forças de segurança destruíram embarcações em Autazes, Nova Olinda e Borba, onde o prefeito sugeriu criar uma cooperativa para legalizar o garimpo. “É preciso que monte uma comissão para legalizar a cooperativa e legalizar a classe de vocês. A gente não pode trabalhar ilegalmente, irregular, fugindo que nem bandido, vocês não são bandidos”, disse.

Impactos

 O geógrafo Carlos Durigan, diretor da WCS-Brasil (Associação para Conservação da Vida Silvestre) explica que há forte impacto ao meio ambiente por causa da forma como é explorado o ouro. São centenas de dragas espalhadas no rio.

“Sugam o sedimento no leito do rio, nas margens, remexendo todo o sedimento do Rio Madeira. Isso já causa um problema sério de alteração na hidrologia, na dinâmica do rio, na questão do assoreamento. Tem vários trechos do Rio Madeira que ficam muitos rasos por conta do acúmulo desses sedimentos”, disse o especialista.

O uso do mercúrio piora a situação da população que vive no entorno do Rio Madeira, que já enfrenta uma contaminação generalizada.

“Ele tem uma propriedade chamada de bioacumulação, então quando entra na cadeia alimentar, acaba afetando os seres vivos que vão sendo contaminados. Dentro da cadeia alimentar de peixes comendo algas, outros animais comendo peixes, inclusive o ser humano, a tendência é que esse mercúrio vá sendo transferido de um organismo para o outro”, explica.

A contaminação se espalha para outras cidades porque o peixe, por exemplo, também é vendido para outras regiões do país.

O especialista lembra outros problemas sociais associados ao garimpo ilegal, como o aumento da criminalidade, tráfico, trabalho escravo e prostituição.

“O principal agora é que haja uma ação firme por parte da gestão pública de não tratar esse tipo de atividade como uma atividade produtiva como qualquer outra, ela precisa ser tratada com mais seriedade, com mais firmeza e precisa ser banida. É um tipo de atividade que não pode acontecer na Amazônia pela relação custo-benefício. Os benefícios não são gerados para a sociedade e os custos relacionados aos impactos, problemas sociais e de saúde são altíssimos”, disse.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar