Parece que a gente não aprende

Editorial por Luis Miguel Modino*

A falta de empatia parece ter tomado conta da nossa sociedade, uma realidade que tem consequências graves, muito graves. O egoísmo de algumas pessoas tem provocado a volta da pandemia da Covid-19. Os números são assustadores, como mostra o boletim diário da Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas. Nos primeiros cinco dias do ano foram internadas 721 pessoas nos hospitais de Manaus, sendo 98 o número de falecidos desde o dia 1° de janeiro.

O número de internados é o mais alto desde o início da pandemia e o número de falecidos está cada vez mais próximo dos números que fizeram com que nos meses de abril e maio, os cemitérios de Manaus fossem notícia de capa nos jornais do mundo. Nossa cidade ultrapassou todos os limites previstos e agora se encontra na fase roxa, estamos numa situação crítica, consequência de nossas atitudes erradas, pois parece que a gente não aprende.

Somos desafiados a reagir como sociedade, o cuidado da gente e dos outros não é mais uma opção, tem que ser uma exigência, algo que se torna difícil num país onde o mais alto cargo no poder executivo continua mostrando a cada dia falta de senso y de responsabilidade, se tornando o maior aliado de um vírus que já se cobrou a vida de 200 mil brasileiros e brasileiras.

“Não podemos furtar-nos de zelar pela vida das pessoas, especialmente para com os mais vulneráveis”, afirma nosso arcebispo Dom Leonardo Steiner no decreto em que suspendia as celebrações e reuniões na Igreja católica de Manaus até o dia 22 de janeiro. De fato, segundo a nota da Arquidiocese, “já são muitos os agentes de pastoral e ministros contaminados pelo vírus o que coloca em alerta nossos espaços eclesiais”.

Os meios de comunicação, que alguns veem como inimigos, tem noticiado nas últimas semanas como muita gente esqueceu da pandemia, considerando mais importante do que a vida o fato de se aglomerar nas ruas e nas festas, onde o uso de máscara era coisa de uma minoria, que ainda era vista como gente medrosa. Tudo indica que nas próximas semanas, Manaus vai pagar um preço muito alto por isso, também aqueles que eram conscientes da situação e tentaram ter todos os cuidados.

“Vamos cuidar da nossa vida, vamos cuidar da vida das pessoas, dos familiares, dos irmãos e irmãs”, insistia Dom Leonardo nesta terça-feira na nossa Rádio Rio Mar, “nós precisamos continuar a dar nossa colaboração”, segundo o arcebispo. É tempo de entender aquilo que está acima de tudo, que é a vida, a nossa e a dos outros, é tempo “para que as pessoas olhem com mais atenção para as pessoas, não pensem apenas no comércio, não pensem apenas no dinheiro, não pensem apenas nas necessidades pessoais, pensem na necessidade de todos”, em palavras de Dom Leonardo.

Mas também é tempo de denunciar, de exigir das autoridades “um cuidado maior, nós nãos deveríamos estar chegando nessa situação”, em palavras do nosso arcebispo. Segundo ele, “se houvesse da parte dos governos uma preocupação maior, uma exigência maior”, a situação seria bem diferente. Por isso, mais uma vez, aprendamos a tomar medidas, a nos cuidar para cuidar dos outros e não ter que chorar o leite derramado.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.