Novo Ensino Médio começa a valer em 2022; especialista analisa desafios para a rede pública

O Novo Ensino Médio deve começar a ser implementado a partir do ano que vem. Será uma mudança gradual, mas que está prevista desde 2017. Entre as principais alterações está a ampliação da carga horária de 2400 horas para 3 mil horas, ou seja, o aluno vai passar, em média, 7 horas por dia estudando – o que seria ensino em tempo integral.

O Professor Sérgio Freire, Doutor em Linguística e professor da Universidade Federal do Amazonas, explica que todas as disciplinas que existem hoje no ensino médio vão continuar, mas devem corresponder a 60% de todo o conteúdo.

“E os outros 40%? O que vai ser feito? É aí que entra a novidade, que são os itinerários formativos, onde entra a escolha do aluno. Ao mesmo tempo em que você está estudando essas disciplinas básicas, você tem essa opção de ir para 5 caminhos diferentes, por isso chama de itinerário”, explica.

Itinerários

Os itinerários são as áreas específicas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e sociais aplicadas ou Formação técnica e profissional.

“Além do básico você vai estudar aquilo que gosta. Essa é a primeira vantagem. A desvantagem, que muita gente critica, é que é muito cedo ainda para o aluno no ensino médio já escolher qual é sua área. A função do Ensino Médio, geralmente, é essa mesmo, é diversificar as várias áreas para que possa, na sua adolescência, escolher o que gosta. É depois do ensino médio que você deveria escolher isso, no vestibular”.

A intenção da proposta é que o aluno seja protagonista no processo de aprendizagem e possa escolher o que estudar.

Protagonismo na prática

Larissa Rebeca está cursando o segundo ano do ensino médio na Escola Estadual Antônio da Encarnação Filho, em Manaus. Ela foi orientada sobre o novo ensino médio e se prepara para as mudanças.

“Os professores disseram que o ensino médio iria mudar, que não iria mais existir apenas as aulas normais, que à tarde a gente iria fazer o curso que a gente escolhesse, ou de manhã. A escola se encarregaria de mudar nossos turnos, caso fosse preciso”, conta.

Neste ano, Larissa recebeu uma bolsa estudos para fazer um curso técnico de administração ou serviços públicos, mas o sonho dela é fazer faculdade de Direito e gostaria de se preparar para isso com ensino técnico ou curso preparatório.

“Pelo menos o básico do básico para arranjar uma forma de pagar minha faculdade, caso não passe no vestibular porque, infelizmente, no ensino médio não temos aulas voltadas para o vestibular”.

Esse é um dos impasses para a implementação do novo ensino médio no Amazonas, segundo o Professor Sérgio Freire, principalmente pela questão estrutural.

“A escolha vai ser muito restrita, essa é a maior crítica que se faz ao novo ensino médio. Os sistemas públicos de ensino não estão preparados em termos de infraestrutura e de pessoal para que essa proposta seja implementada a contento. Tem muitos municípios no interior que só tem uma escola de ensino médio. O aluno vai acabar fazendo aquilo que a escola oferece, a única opção. Isso joga por terra toda a ideia da reformulação de você ter o direito de escolher”.

Impacto no vestibular

De cada 10 alunos que chegam ao ensino médio, apenas 6 concluem. Para Sérgio Freire, a mudança pode causar um gargalo ainda maior entre o ensino particular e público. O aluno da rede pública que desejar cursar medicina, por exemplo, teria que seguir pelo itinerário de ciências da natureza, mas se não houver uma escola que ofereça a opção, o aluno da rede privada sai na frente.

“O Enem, na mudança, vai focar no conteúdo trabalhado no itinerário da ciências da natureza. O aluno da rede particular que fez isso, que escolheu esse caminho e pode fazer, vai sair na vantagem. O outro que não fez, mas quer fazer medicina também não estudou, não fez esse complemento porque ele não teve opção”.

Sérgio Freire defende mais discussão sobre a nova proposta.

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Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar