Marco Temporal: tentativa de acabar com quem sempre cuidou do território brasileiro

Estou com fomeEditorial por Luis Miguel Modino*

Um país que despreza sua origem está condenado ao fracasso. Podemos dizer que o Marco Temporal é um claro exemplo disso, pois despreza os direitos dos povos originários, primeiros habitantes de um território que hoje querem lhes tirar, passando acima dos direitos garantidos pela Lei Suprema no Brasil, a Constituição Federal, que mais uma vez quer ser desrespeitada sem escrúpulo.

Não tem cabimento considerar invasores àqueles que são donos de suas terras, de territórios preservados secularmente, que tem garantido a conservação de espaços que querem ser invadidos para ser destruídos em busca do lucro, rejeitando todo sinal de vida.

Como cristãos católicos temos que ser claros em dizer não ao Marco Temporal, pois sua aprovação vai representar o fim dos povos indígenas. Sem território, os povos originários vão perdendo seu espaço de vida, sua cultura, suas cosmovisões, sua espiritualidade, sendo condenados a se refugiar nas periferias das cidades onde correm o risco de morrer à mingua.

O que fazer para poder parar uma lei que é claramente contra a vida? Como nos posicionarmos em defesa daqueles que sempre foram vistos como cidadãos de última categoria? Como ajudar a superar preconceitos que fazem parte do imaginário brasileiro? Como ser uma sociedade onde todos os habitantes do Brasil têm voz e vez e tem seus direitos respeitados?

A desaparição dos povos indígenas como povos faz com que o Brasil possa perder elementos fundamentais em sua condição de país. Um país de tantos rostos não pode correr o risco de perder uma diversidade que lhe enriquece, que lhe faz crescer e ser uma nação com maior vitalidade.

As elites políticas e econômicas, verdadeiros impulsores do Marco Temporal, sempre pensando em seu exclusivo benefício, não podem ser aqueles que marquem o rumo que a nação brasileira quer trilhar. Pequenos grupos que pretendem colocar na cabeça da sociedade novas dinâmicas de existência que em nada tem a ver com o cuidado da vida dos mais fracos e pequenos, daqueles que deveriam ser objeto de maior cuidado, colocando em risco sua condição de humanidade, pois a humanidade aprece quando estamos dispostos a cuidar daqueles que ninguém cuida.

A postura da Igreja do Brasil é clara e coloca em evidência as graves consequências da aprovação do Marco Temporal. Essa é uma postura que tem sido defendida ao longo de décadas e que está sendo mostrada mais uma vez com posicionamentos em defesa dos povos indígenas, mestres no cuidado da casa comum.

Sejamos conscientes disso, e na medida das nossas possibilidades façamos o que estiver ao nosso alcance para evitar que mais uma lei de morte e destruição seja aprovada no Brasil. Sua aprovação será o final dos povos indígenas, mas também colocará em risco a sobrevivência de todos, pois sem o cuidado da floresta a vida se complica e muito.

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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB