Bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, leigos e leigas, dentre eles representantes de 12 povos indígenas, das nove (arqui)dioceses e prelazias estiveram reunidos em Manaus, na 47.ª Assembleia do Regional Norte 1 (Amazonas e Roraima) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para acolher as novas Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019 – 2023) e recordar a caminhada feita em preparação ao Sínodo para a Amazônia a ser realizado de 6 a 27 de outubro, em Roma, reforçando o compromisso de levar ao Papa Francisco alguns clamores houve durante as escutas e que estão no Instrumentum Laboris, documento norteador deste sínodo.
Com o objetivo geral de evangelizar no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude, as novas Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2019 – 2023) nos trazem a imagem da casa, com quatro pilares de sustentação: Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária.
“As diretrizes têm uma proposta muito clara de formar Comunidades Eclesiais Missionárias e para que fique mais fácil de tratarmos esse assunto, apresentam-nas na imagem da casa, do lar, que é também símbolo da comunidade que acolhe, envia, protege, forma, evangeliza e salva, e essa casa possui quatro pilares. O pilar da Palavra reconhece a importância da Palavra de Deus e o necessário avanço no processo de iniciação à vida cristã; o Pão que nos alerta para a liturgia, para a nossa espiritualidade, fonte de vida e de compromisso; a Caridade nos interpela a ser tal como Jesus, capazes de investir a nossa vida, talentos e capacidades e até comunicação e economias a serviço da vida plena, para que todos tenham vida e vida em abundância; e a Ação Missionária que nos convoca a uma missionariedade permanente, um processo eclesial necessário em toda a igreja do Brasil, em especial para a nossa Amazônia. Por isso estudar e conhecer as diretrizes é entrar no coração das comunidades e fazer com que todas sejam um ambiente de paz, justiça, verdade, uma página viva do Evangelho”, explicou Dom Mário Antônio que é o segundo vice-presidente da CNBB e bispo da Diocese de Roraima.
Também se recordou a caminhada realizada nas comunidades em preparação para o Sínodo, sendo este último com ampla e diversificada preparação através de muitos processos de escuta, principalmente ao clamor dos pobres, ribeirinhos e povos originários da Amazônia (indígenas) com sua sabedoria e sua forma de viver respeitando a natureza, tendo uma estimativa de 390 povos existente da Pan-Amazônia.
Pe. Zenildo Lima, reitor do Seminário São José e integrante do grupo que realizou a síntese das escutas realizadas no Regional Norte 1, esteve responsável por recordar aos participantes da assembleia a caminhada preparatória desse Sínodo que teve uma trajetória muito particular, tendo como ponto de partida a Encíclica Laudato Si, onde o Papa apresenta um conceito de Ecologia Integral e chama a atenção para o compromisso de defesa do meio ambiente ligada a um processo de justiça social, com a consciência de que tudo está interligado. “Aqui na assembleia retomamos a caminhado do sínodo a partir de algumas categorias: o diálogo, que traduz a necessidade que temos de entrar em contato com uma nova cosmovisão, uma nova compreensão da realidade, por isso o diálogo da igreja com diversas populações amazônicas é um convite para ela rever a sua linguagem e a sua estrutura ministerial; a profecia, pois existem muitos ruídos e incompreensões sobre o papel da igreja católica diante da realidade, sendo papel da igreja sair da sacristia, assumir essas lutas, fazer companhia para esses povos, assumimos suas lutas, profeticamente assumimos essa pauta, pois é papel da igreja seguidora de Jesus; e a Presença, muito invocada neste sínodo que nos pede para sair de uma pastoral de visita para assegurar presença na comunidade, que implica em rever a organização da comunidade eclesial e da igreja, rever os ministérios que tem e o modo como acontecem e estão presentes nas comunidades, para que os protagonistas, líderes nativos, cristãos leigos e leigas, homens e mulheres, tenham mais participação na igreja. É com esse espírito que esta assembleia delega aos bispos a voz dos povos que estão na Amazônia”, explicou Pe. Zenildo.
Flavio Ferraz, leigo e professor indígena, da etnia Wanano, de São Gabriel da Cachoeira onde há 23 povos e quase 90% da sua população é de indígenas, considera importante acolher as novas diretrizes, em especial quando trata da missionariedade. “A complexidade dos povos indígenas desafia a adentrar no processo missionário, com ponto focal no chamado do Papa para o Sínodo que nos dá oportunidade de colocar tudo que se passa com os povos indígenas para poder traçar novas diretrizes nesse caminho missionário. Vários leigos indígenas na região tem um processo missionário, e acreditamos que no pós-sínodo podemos sonhar com representantes de decisão, padre ou bispo indígena, para que possamos ter força nesse processo missionário nesta vasta Região Amazônica”, explicou Flávio.
E Denis da Silva, também indígena da etnia Tukano, que exerce o ministério extraordinário da Sagrada Comunhão e é coordenador de liturgia na comunidade Santana, pertencente à Paróquia N. Sra. Aparecida, em São Gabriel da Cachoeira, acredita que todo esse processo vem fortalecer a ação da igreja junto aos povos indígenas, além de fazer ecoar suas vozes e seus clamores. “A igreja é a única instituição em quem os povos ainda confiam e isso é muito importante, e através dos depoimentos que surgiram nas escutas a gente percebe o quanto que a igreja deve estar presente nesses locais, porque é uma forma também de ecoar a voz das pessoas que estão sendo deixadas à margem da sociedade”, destacou.
“Estamos muito felizes com tudo isso que está acontecendo. Nós estamos sendo ouvidos e isso é importante, pois antes não tínhamos participação nas decisões que a Igreja toma. Hoje está se ouvindo o povo. Mas estamos apreensivos e ansiosos, pois sabemos que as mudanças podem acontecer de forma rápida ou lenta, e com tudo isso estamos vendo que a igreja deu uma abertura para sermos ouvidos. A gente espera que haja mais esse diálogo para que eles possam levar os pedidos que fazemos e o principal pedido é que a gente precisa desses novos ministérios que estão sendo estudados, porque assim a gente poderá chegar mais próximo de nossas comunidades, levar mais a palavra e a eucaristia aos que estão mais distantes dos centros das cidades, transformando visita em presença. Estamos em uma área muito distante em que o padre passa poucas vezes. Além de valorizar as mulheres de nossas comunidades porque na maioria das vezes são elas que fazem todo esse trabalho”, explicou Denis.
Para o presidente do Regional Norte 1, Dom Edson Damian, o sínodo para a Amazônia tem uma originalidade especial pois nenhum dos sínodos anteriores tiveram, tendo em vista a grande preparação que foi feita, principalmente no exercício de escutar as bases, os povos indígenas e aqueles que nunca tiveram vez e nem voz na igreja. “Levamos uma expectativa de que realmente nós vamos encontrar novos caminhos para evangelizar a Amazônia, com a valorização das mulheres e a busca de novos ministérios que possam tornar presente a eucaristia, a penitência e a unção dos enfermos de uma forma mais direta e tornar a pastoral de visita, em uma pastoral de permanência, de presença constante, e isso vai fazer com que busquemos novos ministérios. E a gente espera que este sínodo que está colocando na vitrine do mundo a situação em que vive a Amazônia, a gente busque novos caminhos para uma ecologia integral”, destacou o bispo.
Com informações da Assessoria/Arquidiocese de Manaus
Foto: Divulgação/Regional Norte 1