Gambiarra com arame provocou acidente com avião que saiu da pista no Aeroclube

Pelo menos sete fatores contribuíram para o acidente que deixou seis pessoas feridas, no dia 27 de abril de 2020, quando um avião de pequeno porte atravessou um barranco e bateu em um muro, na lateral direita do Aeroclube de Manaus, durante a decolagem com destino a Rurópolis (PA). Entre eles, uma ‘gambiarra’ com arame no manche foi determinante para o sinistro. As informações constam no relatório final A-058/2020 do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

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O acidente deixou a aeronave (Cessna Aircraft) praticamente destruída, o tripulante com ferimentos graves, dois passageiros com lesões leves e três saíram ilesos.

De acordo com o Cenipa, um dispositivo de segurança chamado de trava do manche tinha sido substituído por um arame. A ferramenta original tinha como objetivo “travar os comandos do profundor e dos ailerons (espécie de volante das aeronaves), para evitar que ventos de rajada atingissem a aeronave, quando estacionada, e provocasse a movimentação inadvertida dessas superfícies de comando, evitando danos em função do choque delas contra batentes de fim de curso”

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Ainda conforme o relatório do Cenipa, com o arame travando a movimentação do manche, não foi possível para o piloto realizar a decolagem, motivo pelo qual ele percorreu quase toda a distância disponível, ultrapassou os limites da pista e caiu no barranco situado logo após o final da pista.

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Falta de atenção

Contudo, o Cenipa também concluiu que o piloto ignorou o procedimento padrão de checklist. “O piloto relatou que chegou no avião uma hora antes da decolagem e recebeu a informação, de outro piloto, de que a aeronave estava ‘Ok’. Informou que apenas completou o óleo do motor, ou seja, não realizou a inspeção do prévoo”.

Conforme os investigadores, o cheque dos controles era necessário para que o piloto verificasse se os comandos de voo estavam livres de qualquer restrição para assegurar que não haveria qualquer problema que impedisse o controle da aeronave.

No entanto, havia um arame instalado na coluna do manche e o piloto, por não ter realizado os cheques adequadamente, iniciou a corrida de decolagem com os comandos travados. Assim, não foi possível realizar a rotação da aeronave e concluir a decolagem.

Experiência

O Cenipa ainda ressaltou que aquele seria o primeiro voo do piloto naquele avião PT-OBU, apesar de ter 40 horas de experiência com aquele modelo de aeronave. Na ocorrência em questão, o Cenipa afirma que, caso a aeronave estivesse equipada com a trava original prevista no manual do fabricante, o piloto sequer teria conseguido ligar o motor antes de removê-la. Por isso, além da gambiarra com arame, o descumprimento do checklist pelo comandante também contribuiu para a irreversibilidade do acidente.

Peso

Um outro problema considerado grave constatado foi o excesso de passageiros e possível venda proibida de passagens. A aeronave tinha capacidade para apenas quatro pessoas, mas tinha seis, sendo uma delas uma criança de colo e uma outra sentada entre adultos e sem cinto de segurança.

De acordo com o Cenipa, considerando que a aeronave foi abastecida em sua capacidade total de combustível, o peso estimado dos ocupantes e das bagagens transportadas, o peso de decolagem ultrapassou o máximo permitido em, aproximadamente, 30 kg, fora dos limites estipulados pelo fabricante.

O relatório também constatou que, apesar de haver restrição, houve embarque de passageiros em frente ao hangar da empresa A.R.T. Táxi Aéreo, que configura possível transporte remunerado clandestino de passageiros.

 

Confira abaixo um resumo das conclusões do Cenipa:

1 – Atenção – contribuiu;

2 – Atitude – contribuiu;

3 – Capacitação e treinamento – indeterminado;

4 – Julgamento de Pilotagem – contribuiu;

5 – Manutenção da aeronave – contribuiu;

6 – Percepção – indeterminado;

7 – Pessoal de apoio – contribuiu;

8 – Pouca experiência do piloto – indeterminado;

9 – Processo decisório – contribuiu;

10 – Outro (falta de aderência a normas ou regulamentos estabelecidos pela autoridade de aviação civil brasileira) – contribuiu.

Bruno Elander – Rádio Rio Mar

Foto: Cenipa