Famílias ocupam terreno na comunidade ‘Nações Índígenas’, no Tarumã

Indígenas de diversas etnias aproveitaram o Dia Internacional da Mulher Indígena, no último domingo, 5 de setembro, para começar uma ocupação no bairro Tarumã, zona Norte de Manaus. A área é conhecida como comunidade Nações Indígenas, nas proximidades da Rua Uniflor.

Gilmara da Silva conta porque mulheres, crianças e famílias inteiras estão invadindo a área. “todos que estão aqui necessitam de moradia. Tem muita família no quintal da outra, tem mulher grávida, tem gente desempregada”, diz.

Roberto Diniz, da etnia Mura, explica que a área indígena abriga várias etnias e a quantidade de pessoas que precisam de moradia pode chegar a 600, pois são mais de 70 famílias.

“Sou Mura, tem Kokama, Sateré, Tukano, tem todos os tipos de indígenas aqui. Nós entramos e estamos fazendo por conta própria, aqueles que precisam”, diz.

Nessa segunda-feira (06), dezenas de moradores, a maioria mulheres, estavam com facões e outras ferramentas fazendo a limpeza e cortando o mato da área invadida. A Suzete Ramos é líder do povo Kokama, natural de Benjamin Constant, e acompanhou a ação.

“Tem muitas famílias indígenas Kokama que não tem moradia, não tem marido, que estão pagando aluguel e não tem condições de pagar aluguel por causa da pandemia.  Então como a gente viu tudo abandonado a gente entrou, porque era Dia Internacional das Mulheres Indígenas e, pelo descaso que está acontecendo com a população indígena achamos no direito de apoiá-los”, diz.

Segundo os indígenas, existe um projeto para construção de escola, construção de posto de saúde, centro cultural, área de lazer e moradias dignas.

“Nós somos massacrados, estamos sendo discriminados por uma terra que é, verdadeiramente, nossa. Antes eram dos antepassados que morreram. Nós hoje estávamos reivindicando um direito que é nosso. A terra é nossa, mas não tem um documento que é nosso, que é pertencente à União. Como seres humanos, também temos nossos meios de vida e queremos reivindicar nossos direitos, de ter uma moradia digna”

Parte do terreno pertence à um projeto da Associação dos Praças do Estado do Amazonas, que doa terras à policiais associados. Os invasores retiraram os pertences da área que seria dos militares e realocaram para o entorno.

O presidente da Associação, Gerson Feitoza, explica que as terras foram compradas em 2015 e já possui escritura.

“Nós estruturamos um projeto aprovado em Assembleia Geral, chamado ‘Pro Morar’, no ano de 2017, em que o policial militar vai receber um lote doado pela Associação e a Apeam faz a primeira parte em estruturar, terraplanar e depois o associado recebe o terreno através de sorteio. Esses primeiros lotes que estavam sendo invadidos já foram entregues à 7 sócios e os outros 21 ainda não porque falta beneficiar os lotes com infraestrutura”, afirmou.

Indígenas denunciaram ameaças e intimidação de policiais à paisana que reivindicaram a posse das terras. Até a saída da reportagem, um policial militar fardado acompanhava a invasão dos lotes, mas disse que não estava à serviço.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar