Encontro dos cardeais com Leão XIV: “Um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso”

O primeiro encontro de Papa Leão XIV foi com o Colégio Cardinalício, que acontece um dia antes do Regina Caeli, que rezará neste domingo, 11 de maio, ao meio-dia de Roma, e do encontro previsto para segunda-feira com os jornalistas. Um encontro que contou com a participação daqueles que o elegeram, mas também dos cardeais não eleitores, aqueles que já completaram 80 anos. Uma reunião que iniciou com uma oração, “pedindo que o Senhor continue a acompanhar este Colégio e, sobretudo, toda a Igreja com este espírito, também com entusiasmo, mas com profunda fé”.

Primeiro posicionamento

Durante o encontro, o novo pontífice realizou um discurso, que pode ser visto como um primeiro posicionamento, para depois ouvir os conselhos, sugestões, propostas, dos cardeais, insistindo em que fossem “coisas muito concretas, das quais já se falou um pouco nos dias que antecederam o Conclave”.

O Bispo de Roma definiu os dias precedentes como “dolorosos pela perda do Papa Francisco e exigentes pela responsabilidade que enfrentamos juntos, mas, ao mesmo tempo, ricos de graça e consolação no Espírito, segundo a promessa que o próprio Jesus nos fez (cf. Jo 14, 25-27)”. Ele lembrou aos cardeais que “vós sois os colaboradores mais próximos do Papa, e isto é de grande conforto para mim, que aceitei um fardo claramente muito superior às minhas forças, assim como o seria para qualquer outra pessoa”.

Leão XIV enfatizou aos cardeais que “a vossa presença recorda-me que o Senhor, tendo-me confiado esta missão, não me deixa sozinho a carregar tal responsabilidade. Sei, primeiramente, que posso contar sempre, sempre! – com a vossa ajuda, com a ajuda do Senhor, e, pela sua Graça e Providência, com a vossa proximidade e a de tantos irmãos e irmãs que, em todo o mundo, acreditam em Deus, amam a Igreja e apoiam o Vigário de Cristo com a oração e as boas obras”.

Agradecimento ao Decano e ao Camerlengo

O Papa agradeceu e pediu aplausos para o Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re, “cuja sabedoria, fruto de uma longa vida e de muitos anos de fiel serviço à Sé Apostólica, nos ajudou muito neste tempo”. A mesma coisa com o Camerlengo, Cardeal Kevin Joseph Farrell, “pelo precioso e árduo papel que desempenhou durante o tempo da Sede Vacante e da Convocação do Conclave”.

No Tempo Pascal, ele pediu olhar juntos “para a partida do saudoso Papa Francisco e para o Conclave como um acontecimento pascal, uma etapa do longo êxodo através do qual o Senhor continua a guiar-nos em direção à plenitude da vida. E, nesta perspectiva, confiamos ao ‘Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação’ (2Cor 1, 3) a alma do falecido Pontífice e também o futuro da Igreja”. Leão XIV definiu o Papa como “um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso”. Palavras que ele fundamentou com o exemplo de Papa Francisco, “com o seu estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida, de abandono em Deus no tempo da missão e de serena confiança no momento da partida para a Casa do Pai. Acolhamos esta preciosa herança e retomemos o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé”.

Aos cardeais e a ele mesmo, o Papa pediu “tornarmo-nos ouvintes dóceis da sua voz e ministros fiéis dos seus desígnios de salvação, recordando que Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no ‘murmúrio de uma brisa suave’ (1Rs 19, 12) ou, como alguns traduzem, numa ‘leve voz de silêncio’. Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado”.

Adesão ao Vaticano II

Nessa perspectiva, ele destacou “a beleza e sentir a força desta imensa comunidade, que com tanto carinho e devoção saudou e chorou o seu Pastor, acompanhando-o com a fé e a oração no momento do seu encontro definitivo com o Senhor. Vimos qual é a verdadeira grandeza da Igreja, que vive na variedade dos seus membros unidos à única Cabeça, que é Cristo, «Pastor e Guarda» (1Pe 2, 25) das nossas almas”. Uma atitude que levou o Papa a pedir “que hoje renovássemos juntos a nossa plena adesão a este caminho, que a Igreja universal percorre há décadas na esteira do Concílio Vaticano II”.

Uma dinâmica assumida pelo Papa Francisco, que “recordou e atualizou magistralmente os seus conteúdos na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n. 11); a conversão missionária de toda a comunidade cristã (cf. n. 9); o crescimento na colegialidade e na sinodalidade (cf. n. 33); a atenção ao sensus fidei (cf. nn. 119-120), especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular (cf. n. 123); o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos (cf. n. 53); o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades (cf. n. 84; Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 1-2)”.

Leão XIV insistiu em que “trata-se de princípios do Evangelho que sempre animaram e inspiraram a vida e o agir da Família de Deus, valores através dos quais o rosto misericordioso do Pai se revelou e continua a revelar-se no Filho feito homem, última esperança de quem procura com sinceridade a verdade, a justiça, a paz e a fraternidade”, palavras inspiradas no Magistério de seus dois últimos predecessores.

Nome de Leão XIV

Nesse momento, explicou o motivo de ter escolhido o nome de Leão XIV, explicitando os motivos: “a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”.

O Papa, que pediu traduzir os sentimentos em oração e empenho, lembrou as palavras do início do pontificado de São Paulo VI em 1963: “Passe pelo mundo inteiro, como uma grande chama de fé e de amor que inflame todos os homens de boa vontade, ilumine os caminhos da colaboração recíproca e atraia sobre a humanidade, agora e sempre, a abundância das divinas complacências, a própria força de Deus, sem a ajuda de quem nada é válido, nada é santo”.

Texto e fotos: Pe. Luis Miguel Modino

  • Sakuratoto