Eleição municipal: tempo de instaurar uma boa política

Editorial por Luis Miguel Modino*

“Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” A pergunta da encíclica Fratelli Tutti deve ressoar na mente e no coração do povo brasileiro nos dias prévios às eleições municipais que neste domingo, 15 de novembro, deve escolher seus prefeitos e vereadores para os próximos quatro anos.

O conceito de “boa política” tem que nos levar a refletir sobre aquilo que deve ser o propósito da vida em sociedade, fazer realidade um mundo melhor para todos e todas. Num país cada vez mais quebrado socialmente, onde o confronto tem se tornado uma atitude presente na vida de boa parte da população, somos chamados a mudar a realidade.

Nesse sentido, o Papa Francisco nos mostra que “a boa política procura caminhos de construção de comunidade nos diferentes níveis da vida social, a fim de reequilibrar e reordenar a globalização para evitar os seus efeitos desagregadores”. Construir comunidade, mostrar empatia com o outro, se preocupar com a necessidade, com o sofrimento alheio, deve ser um argumento presente na hora de escolher quem deve comandar o governo municipal e quem deve fiscalizar que esse governo seja desenvolvido seguindo o interesse coletivo, o cuidado da coisa pública.

Neste dia 15, junto com a eleição, a Igreja católica comemora a Jornada Mundial dos Pobres, instituída pelo Papa Francisco em 2017. Um governo que não cuida e não defende os interesses das camadas mais pobres da sociedade está indo contra a construção de comunidade e se vendendo aos grupos de poder, caindo na velha negociata do toma lá dá cá. Essa atitude, cada vez mais presente na política atual, deve nos levar a refletir como sociedade e para quem acredita em Deus deve ser um apelo a entender que a fé deve se concretizar em atitudes concretas, também na política.

Seguindo as palavras de Fratelli Tutti, “ao amor, a boa política une a esperança, a confiança nas reservas de bem que, apesar de tudo, existem no coração do povo”. Mesmo diante de atitudes e situações que nos levam muitas vezes ao desânimo, somos chamados a confiar, a ter esperança em que as coisas podem e tem que ser diferentes. Apostar naqueles que guardam o bem em seu coração e o mostram em seu agir é uma obrigação diante do momento atual que a sociedade passa.

A pandemia da Covid-19 tem nos mostrado outras pandemias instaladas secularmente na vida da nossa sociedade. Por isso, precisamos de mulheres e homens comprometidos, que mostrem que “a vida política autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais”, como nos lembra a última encíclica do Papa Francisco.

Estamos diante de mais uma oportunidade de mudar a história, e sobretudo de mudar a vida de pessoas concretas. Uma ocasião de colocar os mais pobres, os mais castigados pela atual crise sanitária, económica, social, como preocupação preferente de todos. O caminho é instaurar uma boa política, e isso depende de todos e todas, mas sobretudo de você.

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*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.