Editorial: Vacina para crianças – a ideologia nunca pode estar acima da vida

Por Luis Miguel Modino*

A pandemia tem nos mostrado atitudes que durante muito tempo ficaram disfarçadas, mas que diante da crise foram aparecendo. São situações que tem que nos levar a refletir como sociedade, a avaliar o modelo civilizatório que está sendo construído, onde o povo confia mais na opinião de algumas pessoas do que no trabalho científico, avaliado por anos de estudo e trabalho.

A ciência permitiu superar doenças que ao longo de muitos anos mataram muitas pessoas, doenças que hoje são quase inexistentes, pois as vacinas fizeram com que elas fossem superadas. Isso foi fruto do esforço de cientistas, que dedicaram sua vida a possibilitar que muitas vidas pudessem ser salvas.

A vacina contra a Covid-19, a pandemia que já matou mais de cinco milhões quinhentas setenta e duas mil pessoas, mais de seiscentas e vinte um mil no Brasil, tem sido motivo de polémica em muitos países, sendo o Brasil um dos países que isso gerou mais divisão e enfrentamento, muitas vezes por questões ideológicas e não por questões sanitárias.

O baixo número de vacinados, que muitas pessoas veem como consequência do incentivo do poder público, numa tentativa de evitar destinar recursos públicos àquilo que a Constituição garante, uma saúde de qualidade para toda a população, coloca em risco a saúde de todo mundo, pois a menos vacina, a possibilidade de contagio e a gravidade da doença aumentam.

Tentar dificultar a vacina de crianças é a nova estratégia, uma atitude daqueles que querem tampar o sol com a peneira, quando na verdade a vacina das crianças contra todo tipo de doenças, ainda mais no Brasil, é algo que faz parte da sociedade brasileira há décadas, salvando a vida de muitas crianças ao longo destes anos.

O incentivo da vacina, também das crianças, tem sido uma cobrança e um incentivo da Igreja católica desde o início da pandemia. O Papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande parte da Igreja católica tem apostado na defesa da vida, insistindo em superar ideologias que geram morte, dor e sofrimento em muita gente, ideologias que infelizmente são apoiadas por pequenos grupos de católicos, ou que se dizem tais, indo contra aquilo que o Papa e os bispos do Brasil defendem.

Nossa sociedade deve refletir, se questionar e fazer escolhas claras. Não dá para ficar acima do muro, para estar com Deus e com o diabo, para não apostar decididamente na defesa da vida. Nestes dias em que o número de contagiados e de mortes está aumentando no Brasil e no mundo de modo alarmante, somos chamados a nos posicionarmos claramente em favor da vida.

Crer em Deus deve nos levar a isso, a defender a vida sempre, a lutar contra aqueles que colocam interesses pessoais, políticos, econômicos, ou do tipo que for, acima dessa defesa da vida. É tempo de tomar posição e dizer abertamente que a vida, especialmente dos pequenos, está acima de tudo, também das ideologias que matam.

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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB