Editorial Por Luis Miguel Modino
Superar a violência, que tem se instalado na sociedade brasileira como uma verdadeira pandemia, é um dos grandes desafios que o país enfrenta desde há vários anos. Tem quem pensa que isso será superado facilitando a posse de armas, mas muitos também duvidam que esse seja o caminho.
Nos últimos dias mais uma polêmica tem se instalado na imprensa e nas redes sociais pelo Brasil afora. Na semana passada, o presidente da República decidia zerar a alíquota na importação de armas, buscando flexibilizar o acesso a armas. Nesta segunda-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, suspendia a resolução governamental.
Uma das promessas de campanha do atual presidente foi a liberalização da posse de armas. Ele afirma que “eu quero todo mundo armado! Que o povo armado jamais será escravizado”. Muitos acreditam que isso vai resolver o problema da segurança pública, quando na verdade o que se faz urgente é a implementação de políticas públicas, algo que, por outro lado, não está dentro dos planos do atual governo, mais empenhado em satisfazer interesses pessoais e de grupos de poder do que em cuidar do bem comum.
Facilitar a posse de armas é favorecer o crime organizado e as milícias, realidades cada vez mais presentes no Brasil, que provocam milhares de mortes de inocentes a cada ano. Nesta terça-feira celebrava uma missa em que a gente lembrava um mês do falecimento do Rafinha, uma criança de 11 anos que morria enquanto era feita a contagem dos votos da última eleição municipal. Para muitos, ele é mais um número de uma longa lista, mas para sua família, especialmente para sua mãe, é uma parte dela que tem sido tirada de forma violenta e inesperada.
Tudo aquilo que provoca morte, sofrimento, deve ser combatido abertamente. A violência e a morte não podem ser enfrentadas com armas e sim com políticas públicas que cuidem da população, especialmente das camadas mais pobres. Se faz necessário construir uma cultura da paz, que nos leve a descobrir a possibilidade de viver com esperança, de olhar para o futuro como homens e mulheres que apostam decididamente na vida.
Neste tempo de Advento, em que a esperança é uma atitude a ser cultivada na nossa vida, na vida das nossas famílias e comunidades, somos chamados a refletir sobre a necessidade de preparar os caminhos para que nossa sociedade se torne diferente. Buscar caminhos para ajudar o outro, seja quem for, deveria ser assumido como uma atitude que nos ajude a superar o desejo de acabar com o outro. O cuidado sempre deve falar mais alto, e isso a gente nunca vai conseguir comprando armas.
É tempo de nos questionar, de nos converter, de superar o sentimento de vingança, de não querer resolver as coisas através da violência. Uma sociedade violenta, do olho por olho e dente por dente, vai aos poucos caminhar para o fim. Por isso, tudo o que promove que a população se arme deve encontrar nosso posicionamento contrário. Os caminhos devem ser outros, tem que ser outros, ainda mais se a gente tem o Deus de Jesus Cristo como uma referência na sua vida. Ele veio para trazer a paz, uma paz que se faz presente quando a gente acredita nela. Não duvide, a cultura da paz é o caminho.
Ouça:
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.