Editorial: Igreja na Amazônia, compromisso para avançar juntos e sem medo

Estou com fomeEditorial, por Luis Miguel Modino*

A Igreja católica na Amazônia não é uma Igreja fechada dentro dos templos, ela se preocupa com a vida dos povos, com a realidade que ela tem em volta. Isso foi mais uma vez comprovado no V Encontro da Igreja na Amazônia, realizado em Manaus de 19 a 22 de agosto com o tema “A Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia: Memória e Esperança”.

Bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas, reunidos para encontrar caminhos, na formação, na ministerialidade, na participação das mulheres, no cuidado da Casa Comum, na corresponsabilidade e sustentabilidade, na caridade e a profecia. E para isso dar passos, sem medo, confiantes na força que vem de Deus e que nos dá o fato de caminhar juntos, em sinodalidade.

Uma Igreja de homens e mulheres, que não querem e não podem continuar sendo consideradas de segunda categoria, ainda mais quando elas são a grande maioria e assumem a maior quantidade de trabalhos nas comunidades e paróquias. Mas que também querem participar dos processos de decisão, pois elas também encerram dentro de si a luz de Deus e podem iluminar o caminhar da Igreja.

Uma Igreja que quer a “garantia de políticas públicas que atendam principalmente os empobrecidos”, e que por isso pede a todos e todas “identificar e escolher bem os candidatos e as candidatas” que ajudem na “consolidação da democracia e o avanço da justiça social nos municípios”. Candidatos com “um compromisso irrenunciável com a defesa integral da vida”, dos direitos humanos, da Casa Comum.

Uma Igreja que quer caminhar em sintonia com os povos e as culturas da região, olhando para aquilo que ajuda os homens e mulheres a se relacionar de modo melhor, mais pleno, com o Deus que está no meio de nós. Uma Igreja que a partir dos processos de inculturação do Evangelho, que tem se dado ao longo de séculos, quer celebrar segundo seu rito, o rito amazônico, como acontece em outros lugares do mundo, em que a Igreja tem seus próprios ritos.

Uma Igreja que mostra para os povos indígenas e para as comunidades tradicionais, para os empobrecidos, que eles têm nela uma aliada, uma mãe, uma companheira de caminho, de vida, de lutas por um mundo melhor para todos e todas, de luta pelo Reino, essa causa que levou a muitos profetas e profetizas na Amazônia a dar a vida, a ser sementes de Deus neste chão amazônico.

Uma Igreja de esperança, comprometida, samaritana, cuidadora da vida em todos os níveis, onde todos e todas têm espaço, onde ninguém fica do lado de fora. De portas abertas para que todo mundo possa entrar, também sair, mas também voltar quando sente a necessidade do Pai, mesmo tendo pensado em outros momentos que longe dele a vida seria melhor.

E essa Igreja está aqui, no meio de nós, como fruto de tudo o que tem sido vivido ao longo de tantos anos, na vida de tantos homens e mulheres que descobriram e testemunharam, que descobrem e testemunham, que vale a pena ser comunidade de fé neste chão, nestas águas, onde Deus está presente em tantas pessoas que foram lhe conhecendo e se apaixonando por Ele.

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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB