Editorial, por Luis Miguel Modino*
Na última terça-feira, 30 de julho, foi comemorado o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, uma data que tem que nos levar a refletir, mas também tem que nos comprometer em uma luta que é de todos, que ninguém pode ignorar, olhar para o outro lado. Estamos diante de um crime que está próximo de nós, especialmente na Amazônia, uma região onde muitos homens e mulheres se tornam vítimas do tráfico de pessoas, mas que também é rota de tráfico internacional de pessoas.
O tráfico de pessoas é uma realidade interligada com outros tráficos, o tráfico de drogas, o tráfico de armas, que tem se espalhado até os locais mais distantes e que de diversos modos vai captando suas vítimas, que entram nas redes de tráfico de pessoas, tendo grandes dificuldades para sair delas, algo que muitas vezes não acontece.
Diante dessa realidade, somos desafiados a fazer tudo o que está em nossa mão para ajudar as pessoas a não se tornar vítimas do tráfico humano, mas também a denunciar para que aquelas que se tornaram vítimas possam sair dessa realidade. A indiferença, uma atitude cada vez mais presente na sociedade atual, faz com que o sofrimento das vítimas aumente, gerando dor nelas e em suas famílias, que também sofrem as consequências desse crime.
O cuidado com o outro, especialmente com as vítimas, deveria ser assumido como uma obrigação, especialmente quem se diz cristão. No Brasil, a Igreja vem lutando no enfrentamento ao tráfico de pessoas de diversos modos, mas especialmente através da Rede um Grito pela Vida e a Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Seu trabalho é importante, mas todos devemos entrar nessa dinâmica, que nos leva a assumir as dores das vítimas, a nos mexer diante do sofrimento do próximo. Somos chamados a entender as manobras das redes do tráfico de pessoas, seus modos de agir, para poder ajudar às possíveis vítimas, entre as que podem estar pessoas que fazem parte das nossas comunidades.
A vulnerabilidade, a falta de expectativa, a falta de conhecimento, a dificuldade para encontrar emprego, são situações que favorecem o agir das redes, que vão captando pessoas que sofrem essas situações, se aproveitando da necessidade ou da falta de conhecimento para captar suas vítimas. Diante da dificuldade é sempre mais fácil ser tentado por promessas que nada tem a ver com o que realmente acontece.
O que estou disposto fazer para enfrentar esse crime? Até que ponto sou consciente das consequências do tráfico de pessoas? São perguntas que cada um, cada uma de nós tem que se fazer. Não podemos permanecer indiferentes diante de uma realidade cada vez mais estendida em nossa sociedade. Sejamos conscientes que enfrentar o Tráfico de Pessoas depende de todos, mas sobretudo de mim.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB