Editorial: Descomprometidos como atitude permanente

Editorial por Luis Miguel Modino*

A falta de compromisso é uma atitude cada vez mais presente em nossa sociedade. A excessiva preocupação com nós mesmos faz com que fiquemos surdos e cegos diante do que acontece com os outros, diante de situações presentes em nosso mundo. Aos poucos fomos nos acostumando com aquilo que destrói a vida e consideramos que essas coisas têm que ser assim, não tem outro jeito.

Ainda estamos nas primeiras semanas do ano e esse é um tempo para fazer bons propósitos, para nos questionarmos sobre a necessidade de novos olhares, de atitudes diferentes, de assumir outros compromissos. São sentimentos que tem que estar presentes em cada um e cada uma se realmente queremos que esse mundo que tanto criticamos, sempre colocando a culpa nos outros, possa mudar.

As guerras, a violência, as mudanças climáticas, a falta de moradia, de saúde, de educação, de condições de trabalho… são alguns dos exemplos daquilo que está presente, muitas vezes bem próximo de nós. Como eu reajo diante dessas situações? Até que ponto me sinto atingido por essas realidades?

Somos desafiados a refletir sobre nossa capacidade de empatia, de nos colocarmos no lugar dos outros, sobretudo no lugar daqueles que sofrem por diversos motivos. De fato, essa capacidade de empatia é o que define nossa condição humana, ainda mais o que demostra que acreditamos no Deus de Jesus Cristo, o Deus que se fez carne, que se fez com a gente, e também passou por momentos de sofrimento.

A falta de humanidade tem a ver com a falta de capacidade para entender quem é o Deus de Jesus Cristo. Nunca seremos discípulos se não conseguirmos ser plenamente humanos, se não manifestamos empatia, compaixão diante do sofrimento alheio, uma atitude cada vez mais presente em nossa sociedade e que tem que nos levar a pensar nos caminhos que estamos trilhando em nossa vida.

O individualismo exacerbado, que aos poucos quer ser imposto como a atitude a ser seguida, tem que nos levar a refletir, a pensar, mas também a fazer propostas alternativas de convivência que nos levem a poder viver e nos relacionarmos de um modo diferente, de um modo mais humano, mais cristão, um cristianismo inspirado na pessoa de Jesus, que nunca virou a cara diante do sofrimento das pessoas.

Sempre é tempo de repensar, de reconduzir os caminhos da nossa vida, os caminhos da nossa sociedade. Pensar nos outros é o rumo certo, pois isso vai fazer com que possamos olhar o futuro com mais esperança, com maior confiança uns nos outros. Será que não vale a pena assumir esse jeito de viver? Será que a felicidade e o bem-estar de todos não é uma prioridade em minha vida? É tempo de pensar, de deixar para trás nossa falta de compromisso com aquilo que é de todos.

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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB