Editorial: Acreditar na vida, uma urgência pascal diante da morte de tantos inocentes

Editorial Por Luis Miguel Modino*

Acreditar na vida é fundamento da fé cristã. Os discípulos e discípulas de Jesus Cristo acreditamos que Ele está vivo, que Ele Ressuscitou e N´ele, nós vamos ressuscitar. Diante da realidade que estamos vivendo nos últimos dias no Brasil, em que a morte tomou conta do país, somos chamados a refletir sobre a importância da vida, do que ela significa.

No Tríduo Pascal celebramos a Vitória sobre a morte daquele que morreu injustamente, crucificado por um sistema político e religioso que tinha virado as costas para o povo. O acontecido com Jesus é uma história que tem se repetido ao longo da história da humanidade. Hoje, de modos diferentes, muitos continuam sendo crucificados, se tornando mais uma vez vítimas inocentes.

Diante dessa realidade, cuidar da vida e acreditar nela se faz cada vez mais urgente. Cada um de nós e todos juntos, como sociedade, como homens e mulheres de fé, somos desafiados constantemente a encontrar caminhos que tornem a vida e seu cuidado como uma prioridade universal.

Contemplar o Crucificado tem que nos levar a enxergar aqueles e aquelas que hoje são pregados nas cruzes, que se tornaram imagem de Cristo sofrente. São muitas as vítimas que hoje contemplam desde suas cruzes a indiferença de muitos, inclusive o desprezo daqueles que ficam caçoando, rindo diante do sofrimento alheio. A falta de empatia continua presente no coração de muitos, inclusive daqueles que se rasgam as vestes ao ver a imagem do Filho de Deus pregado na Cruz, esquecendo que Ele é só um exemplo que representa situações que perpassam o tempo e o espaço.

O que fazer para cuidar da vida? Como nos envolver, pessoal e comunitariamente, nesse cuidado? Quais os passos a serem dados para acreditar definitivamente na vida? Essas são perguntas diante das quais se faz necessária uma resposta urgente, que provoque uma reação que possa ajudar a acreditar definitivamente no cuidado com a vida. O nosso compromisso pessoal e comunitário se tornou uma urgência inadiável. Não assumir esse desafio faz com que centenas, milhares de pessoas continuem vendo ceifadas suas vidas a cada dia.

Não podemos nos fazermos parceiros de quem mostra um claro descaso com a vida. Se nossos sentimentos humanos não fossem algo suficiente para isso, a nossa fé deve ser um imperativo a mais. Nunca podemos esquecer que acreditamos num Deus que não compactua com a morte, ainda menos com a morte do inocente. Ele é alguém que acredita decisivamente na vida e nós, se de fato queremos ser seus discípulos e discípulas, temos que trilhar o mesmo caminho, o caminho da vida.

Viver e celebrar o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, não é uma lembrança do passado e sim uma memória que atualiza o acontecido quase dois mil anos atrás. As atitudes dos personagens que aparecem nos relatos evangélicos continuam presentes hoje em cada um e cada uma de nós. Qual é a minha? Qual é a sua? Realmente podemos dizer que somos parte de quem acreditou na vida? Deus continua nos questionando, nos desafiando a acreditar naquilo que realmente fundamenta a nossa vida.

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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB