Desmatamento em larga escala na Amazônia causa aceleração das mudanças climáticas

A maior característica das mudanças climáticas e do aquecimento global é a ocorrência de eventos extremos: seca, incêndios florestais, chuvas fortes, ciclones tropicais, derretimento de geleiras e ondas de calor. Tudo isso já está acontecendo desde a década de 1950 no mundo. Segundo a coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Dra. Luciana Gatti, a Amazônia poderia amenizar os impactos, mas tem causado o efeito contrário.

“Para os brasileiros, o desmatamento está acelerando as mudanças climáticas porque desmatando estamos jogando mais CO2 na atmosfera e ainda estamos reduzindo a chuva e aumentando a temperatura. Ao invés da Amazônia representar uma proteção climática, a gente acaba fazendo a Amazônia virar uma aceleração das mudanças climáticas”, diz.

O principal causador do desequilíbrio é o combustível fóssil. No mundo, o desmatamento está em segundo lugar no ranking das emissões de gases do efeito estufa, com 14%, mas no Brasil está em primeiro lugar.

Eventos extremos em Manaus

Em Manaus, o exemplo mais claro é o ciclo das águas. Nos últimos 20 anos a capital registrou 3 grandes secas e 3 grandes enchentes, ou seja, extremos ainda mais extremos.

Para o cientista peruano e professor titular do Inpe, José Marengo, é preciso encerrar o desmatamento em todo o mundo e recuperar áreas que já foram devastadas. “A ideia não é de reduzir o desmatamento ilegal, é encerrar o desmatamento em geral”. A Amazônia tem o papel de limpar o gás carbônico e não ser fonte de CO2.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgado nesta semana pela Organização das Nações Unidas aponta que a temperatura vai continuar a subir. A projeção é que a Amazônia fique de 4 a 6 graus mais quente até 2100. “Isso é perigoso porque é uma combinação de altas temperaturas com redução de precipitação, principalmente na parte Leste da Amazônia”, diz.

O Estado do Pará e Norte do Mato Grosso representam emissão de CO2 10 vezes maior do que o restante de Amazônia, mas, no primeiro semestre, Amazonas já liderou o ranking de desmatamento.

O documento da ONU deixa claro que é inquestionável a influência humana no aquecimento do planeta e os cientistas alertam para que os países utilizem a ciência para a tomada de decisões em relação ao clima.

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 Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar