Assembleia Mundial pela Amazônia: a autodefesa como caminho de futuro

Editorial Por Luis Miguel Modino*

A situação dos povos indígenas da Amazônia só piora. A realidade já era bastante complicada nos últimos anos, mas com a pandemia da COVID-19 a situação só piorou. A morte da irmã mãe Terra e dos seus cuidadores mais zelosos está provocando que o ecocídio e o etnocídio sejam ameaças cada vez mais reais. O fim da Amazônia e de seus povos originários está cada vez mais próximo.

Diante da falta de ação dos diferentes governos, na depredação da Amazônia até Maduro e Bolsonaro defendem a mesma postura, os povos originários tem reagido e auto convocado a Assembleia Mundial pela Amazônia para os dias 18 e 19 de julho. A iniciativa, que será realizada virtualmente, está contando com a adesão de muitas pessoas e organizações de diferentes países, também da Igreja católica, que a través da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), fez um chamado para aderir a convocatória dos povos indígenas e participar desse momento de fundamental importância.

A Igreja católica, no Sínodo para a Amazônia, como já vinha fazendo há muito tempo, deixou claro que quer ser aliada dos povos amazônicos, especialmente dos povos indígenas. Essa aliança tem se reforçado diante da pandemia, sendo a Igreja católica uma das instituições que mais tem ajudado neste momento crucial da história, onde a vulnerabilidade, tradicionalmente presente na região, aumentou ainda mais, provocando uma situação sem precedentes.

Ninguém deveria ficar indiferente diante da realidade atual. Nesta sexta-feira devem ser superados os 600 mil contagiados pela COVID-19 na Pan-Amazônia, deles quase 500 mil na Amazônia brasileira. O número de mortes já está acima de 18 mil, dos quais mais de 14 mil aconteceram no Brasil. Se a gente fala de povos indígenas, são mais de 20 mil contagiados e mais de mil óbitos, muitos deles anciãos, guardiões de culturas e cosmovisões que sustentaram a vida desses povos ao longo dos séculos, o que coloca em risco seu futuro.

Os povos indígenas cansaram de ver como sua casa está sendo depredada, e em troca eles só recebem exclusão, injustiça e morte. Uma região que sempre foi e continua sendo fonte de recursos para as grandes empresas, com o apoio de governos e políticos corruptos, que levam sua parte, está sendo ignorada na hora de defender os direitos fundamentais dos povos que ali moram. Por isso é tempo de reagir, de apoiar uma luta que é de todos, de entender que o futuro da Amazônia e de seus cuidadores é fundamental para o futuro da humanidade, para o futuro dos nossos filhos e netos. Não podemos ficar calados, ainda menos a gente que se diz cristão.

Fazendo isso, a gente está realizando o pedido do Papa Francisco, que em outubro de 2019, na Assembleia do Sínodo para a Amazônia, pedia buscar alternativas e formas que possam libertar a Amazônia de todos os males que a afetam. E para isso, em Querida Amazônia, ele nos pede que sonhemos com ele: “Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a carateriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos”.

Esses sonhos só se tornam concretos se a gente estiver disposto fazer sua parte, apostando claramente na defesa da vida, lutando pela justiça, por um mundo melhor para todos e todas, pelo Reino de Deus, por um Evangelho encarnado na vida do povo, dos mais pobres. O futuro também depende da gente, é tempo de somar forças, de entender que juntos somos mais.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.