“A fome no Brasil é fruto da injustiça e da desigualdade social… Superá-la depende de você e de mim, é só se importar com o sofrimento alheio”.
Editorial, por Luis Miguel Modino*
A fome é uma realidade presente no Brasil, os números não mentem, 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome e 125 milhões sofrem algum tipo de insegurança alimentar. São números que deveriam nos importar, mas que nós sabemos que muita gente, inclusive muitos cristãos, muitos católicos, é indiferente diante dessa realidade.
A Igreja do Brasil faz um chamado a refletir diante disso. A Campanha da Fraternidade 2023 tem como tema “Fraternidade e Fome”, e como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Jesus questiona aos seus discípulos e a cada um de nós, discípulos e discípulas d´Ele, diante da tentação de fazer de conta que a fome do outro é algo que não tem nada a ver conosco, que a gente não tem por que se importar com isso.
A compaixão é algo intrínseco ao ser humano, mais ainda àqueles que dizem crer no Deus de Jesus Cristo. Somos humanos quando nos compadecemos com a necessidade de outro, somos de Deus quando temos misericórdia para com aqueles que sofrem por qualquer motivo. Quando alguém não tem compaixão é porque a animalidade domina à racionalidade.
Olhando a fome e tantas fomes que existem no Brasil, na Amazônia, em cada uma das nossas cidades e comunidades, somos chamados a reagir diante de uma sociedade e um sistema econômico que privilegia alguns e descarta outras pessoas. Para isso temos que sentirmos a necessidade de sermos mais fraternos, sermos mais solidários, sermos pessoas que sabem dividir.
Quem se diz católico tem que entender que a Quaresma é algo que lhe transfigura, e isso acontece na relação com o outro. Uma transfiguração que nos torna presença de Deus na vida das pessoas, que vivem numa realidade social que precisa ser transformada como um todo, mas também precisa transformar a vida das pessoas que são descartadas.
Quero lembrar as palavras de Dom Tadeu Canavarros ontem na Abertura da Campanha da Fraternidade na Feira da Manaus Moderna. Ele disse claramente que “a fome não é um dado natural. Não é fruto do acaso ou do destino. Não é mera consequência de preguiça ou comodismo pessoal. Nem muito menos é vontade ou castigo de Deus”. O Bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus denunciou que a fome “é resultado de tremendas injustiças e desigualdades que caracterizam nossa sociedade e fazem com que uns tenham tanto e outros tenham tão pouco ou quase nada”.
Ver a fome do Povo Yanomami e de tantos brasileiros e brasileiras tem que nos levar a refletir sobre o tipo de sociedade que foi constituído no Brasil e que perdura por mais de 500 anos. Uma sociedade desigual, que privilegia pequenos grupos e condena grandes camadas da sociedade.
Por isso, voltando às palavras de Dom Tadeu, não podemos ignorar que a fome é uma situação “escandalosa e criminosa se considerarmos que não falta alimento no Brasil”. Segundo ele, “a fome no Brasil é fruto da injustiça e da desigualdade social. É um pecado mortal que clama ao céu! E pode ser eliminada com a solidariedade de todos e com vontade e decisões políticas”.
Superar a fome depende de você e de mim, é só se importar com o sofrimento alheio.