Por Luis Miguel Modino*
6 de janeiro é a festa dos Santos Reis, fazendo memória daqueles Magos do Oriente que seguindo a estrela chegaram em Belém e ofereceram seus presentes ao Menino Deus. Deixaram tudo para seguir aquele sinal e chegar para adorar aquele que seus conterrâneos tinham ignorado.
Se alguém perguntasse para nós o que ofereceríamos como presente ao Menino Deus, com certeza muitos de nós encheríamos a boca falando sobre muitas coisas boas, dizendo que a gente ama muito a Deus e a Jesus. Diante disso, penso nas palavras da Primeira Carta de João, “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê”.
O desejo de oferecer ao Menino Deus tem que nos levar a sentir a necessidade de oferecer à sociedade da qual a gente faz parte, onde Ele continua se encarnando hoje, de oferecer aos mais pobres e vulneráveis, imagem daquele que nasceu no presépio, na periferia, no meio dos excluídos. A religião nunca pode ser um instrumento para se evadir da realidade concreta que faz parte da nossa vida, e sim um motivo para enxergar e nos comprometer com aqueles que são presença do Deus encarnado no meio de nós.
O que a sociedade brasileira precisa de nós neste momento da história? Uma pergunta que deve ser respondida por cada um e cada uma de nós, pessoalmente, mas também uma pergunta que deve ser respondida como Igreja, como sociedade. Somos chamados a construir um mundo melhor para todos e todas a partir daquilo que a gente tem de melhor, sem guardar para nós as nossas capacidades.
O individualismo, o ódio ao diferente, a falta de empatia com aqueles que sofrem, atitudes cada vez mais presentes na sociedade, também no Brasil, devem ser enfrentados como comunidade que se preocupa com um futuro cheio de incertezas. Para isso é imprescindível o envolvimento por completo de todos e todas. Não é suficiente nos envolvermos pela metade, guardarmos para nós uma parte daquilo que a gente pode e deve dar.
A sociedade precisa de pessoas comprometidas com o bem comum, com mudanças sociais cada vez mais urgentes e necessárias, com elementos que façam possível superar desigualdades históricas que favorecem situações que provocam situações que nos afastam e nos enfrentam. Mas para isso devemos colocar ao dispor dos outros o que temos de mais precioso, nossa solidariedade, nosso compromisso com os pobres, com os vulneráveis, com as vítimas de todo tipo de violência, nosso compromisso com a democracia e a defesa dos direitos humanos.
Refletir sobre isso se torna um desafio num ano em que o Brasil deve enfrentar processos sociais e políticos que vão marcar o futuro a médio e longo prazo. A sociedade precisa encontrar caminhos de futuro, e para isso o nosso envolvimento se torna decisivo. Não tenha medo de se comprometer e fazer realidade um mundo melhor.
Ouça:
*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB