Editorial Por Luis Miguel Modino*
A Oitava da Páscoa é tempo para celebrar a Vida, aquela que nasce da Ressurreição e permanece para sempre. Mas como celebra-la diante de tanta morte, vendo como a cada dia se supera o trágico número de mortos pela Covid-19, numa escalada que ninguém sabe até onde vai chegar? Quem não se importa com 4.000 também não vai se importar com números ainda maiores.
Celebrar a Oitava da Páscoa faz parte de quem sente a necessidade de defender a vida, lutando para que ela nunca seja ceifada. Nunca podemos esquecer que cuidar da vida tem que ser sempre a prioridade e tudo o que a gente faz tem que estar ao cuidado da vida de todos e todas, nem só da vida da gente. No final das contas, a Páscoa é a vitória sobre a morte de alguém que entregou sua própria vida para que todos tenham vida e vida em abundância.
Também a religião deve estar em função desse cuidado da vida, superando a tentação de manipula-la e coloca-la ao serviço de interesses particulares. A religião nos oferece a possibilidade de nos relacionarmos com Deus, o Deus da vida, que fica distante de toda religião, falsa religião, que promove ou faz a vista grossa diante da morte, especialmente da morte dos inocentes.
Ontem, 07 de abril, era comemorado o Dia Mundial da Saúde, uma boa oportunidade para refletir sobre esse cuidado com a vida, mas também para agradecer por aqueles que se empenham cada dia, especialmente no último ano, no cuidado com a vida, muitos dos quais tem perdido a própria vida em consequência do seu empenho em cuidar da vida dos outros.
Num mundo em que tudo está interligado, como nos lembrava o Papa Francisco na encíclica Laudato Si´, o cuidado com a vida é algo que deve se tornar uma proposta multidisciplinar. A harmonia pessoal só se faz realidade quando a gente consegue alcançar uma harmonia com todos os seres humanos e com o ambiente do qual a gente faz parte. Isso tem que nos levar a superar o egoísmo, que parece ter tomado conta da vida de muita gente, e cultivar atitudes solidárias e de empatia, a promover a equidade como caminho de futuro, ainda mais para quem se guia pelos princípios cristãos e quer caminhar como discípulo e discípula de Jesus.
Celebrar a Páscoa tem que nos levar a fazer tudo o que estiver na nossa mão para cuidar do SUS, para que remédios eficientes possam chegar a todos, para que a vacina seja aplicada a todo mundo e imediatamente, para garantir os direitos que favorecem a vida em plenitude, para cuidar do Planeta e das relações com as pessoas, promovendo mecanismos que ajudem a superar a exploração desmedida dos recursos e das pessoas, que deixem para trás nossa convivência social, injusta, desigual e intolerante.
Nunca esqueçamos que a Páscoa é Ressurreição, celebração da vida, agradecimento a esse Deus que continua se fazendo presente no meio da gente e nos mostrando o caminho da vida em plenitude.
Ouça:
*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB