Ser jornalista sempre foi profissão de risco, sobretudo quando a informação é colocada ao serviço da verdade e não do interesse dos poderosos. Hoje também se mata jornalista, mas, sobretudo se difama e se humilha àqueles que se colocam ao serviço da verdade. Parabéns para quem cada dia se compromete ao serviço da verdade e tem a coragem de publicar aquilo que alguém não quer que se publique, em destapar aquilo que o poder quer silenciar.
Editorial por Luis Miguel Modino*
Ser jornalista sempre foi profissão de risco, sobretudo quando a informação é colocada ao serviço da verdade e não do interesse dos poderosos. De fato, como disse George Orwell: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”, uma frase que cobra especial relevância no momento histórico que a gente vive, onde muitos, inclusive cadastrados como jornalistas, tem como objetivo bater palmas para a facção das fake news. Uma atitude que, ninguém se engane, rende altos benefícios.
7 de abril, no Brasil, é comemorado o dia do jornalista. A origem da data está relacionada com a morte de Giovanni Battista Libero Badaró, importante personalidade na luta pelo fim da monarquia portuguesa e Independência do Brasil. Ele, que foi médico e jornalista, foi assassinado em 1830 por inimigos políticos, lacaios de quem naquela época mandava no Brasil, Dom Pedro I.
Hoje também se mata, mas, sobretudo se difama e se humilha àqueles que se colocam ao serviço da verdade. São comuns, especialmente nas redes sociais, plateias organizadas que, com nula capacidade intelectual para analisar os fatos, repetem consignas e batem palmas para quem, independentemente do cargo que ocupam, inclusive funções de alta responsabilidade no organograma político, social e econômico, insultam, difamam e assassinam com uma língua viperina que só carrega ódio.
Frente àquilo que ser jornalista pressupõe apurar os fatos, qualquer informação, sempre que responda aos interesses de quem sustentam determinados médios, é rapidamente espalhada, mesmo sabendo que isso tem muitas possibilidades de ser mentira. Mas, eles já conseguiram seu objetivo, difamar o inimigo. A ética está se tornando, cada vez mais, uma virtude pouco comum na sociedade, também no âmbito jornalístico. Estamos em tempo de fake news, e, quanto mais impactante a notícia, mais ibope, e, em consequência, mais rendimento.
Como cristão, católico, padre, e falando aos ouvintes através de uma rádio da Igreja católica, que tem como objetivo último anunciar a grande notícia, que é a Boa Notícia do Evangelho, só posso dizer que a Verdade é o que vai nos libertar, uma Verdade que sempre tem que estar ao serviço da vida, especialmente da vida dos pequenos, sendo altavoz que faça possível que a voz daqueles que nunca foram escutados possa chegar a todos.
Seguindo as palavras de George Orwell, e desde a necessidade de uma postura profética, elemento indispensável na vida de todo cristão e da própria Igreja católica, existem na sociedade, especialmente na nossa Amazônia, muitos fatos que os poderosos não querem que se publiquem. Geralmente o sofrimento dos pequenos é consequência do descaso dos grandes, que se empenham em que sua falta de escrúpulo não seja conhecida pela sociedade.
É por isso, que, como informadores e como católicos, devemos nos esforçarmos, ainda mais, para que toda notícia esteja ao serviço da vida para todos e todas. Como aconteceu com Giovanni Battista Libero Badaró, e com tantos homens e mulheres na história do Brasil e do mundo, denunciar os poderosos e se colocar ao serviço de uma sociedade mais justa, coloca em risco a vida e a boa fama de quem se compromete nessa direção.
Ao serviço de quem a gente está? Essa pergunta é fundamental, se as fake news se tornaram elemento corriqueiro, provocando tanto sofrimento, é porque alguém as elabora e as difunde. Defender a verdade, e os que não contam, ajudaria a fazer realidade um mundo melhor para todos y todas, e isso tem que ser missão comum, também para os jornalistas. Parabéns para quem cada dia se compromete ao serviço da verdade e tem a coragem de publicar aquilo que alguém não quer que se publique, em destapar aquilo que o poder quer silenciar.
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.