Editorial, por Luis Miguel Modino*
Os fenômenos climáticos extremos se tornaram costume. Cada vez são mais frequentes as secas, as grandes enchentes, os ciclones, as chuvas torrenciais, e tantas situações que estampam os noticiários cada dia. O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é mais um capítulo de uma realidade que se tornou comum no Planeta Terra.
A pergunta é até que ponto essas situações nos levam a refletir, a sentir a necessidade de mudar nosso comportamento com relação à natureza. Somos desafiados a nos questionarmos sobre as repercussões práticas daquilo que Papa Francisco chama ecologia integral, uma proposta explicitada na Laudato Si, a primeira encíclica ecológica do Magistério Pontifício, que nos próximos dias completa nove anos de vida.
O custo está sendo muito alto, principalmente pelo elevado número de vítimas destas catástrofes naturais. Ao alto número de falecidos e desaparecidos, evidentemente as vítimas principais, podemos somar aqueles que perderam tudo, às vezes os frutos do trabalho de toda a vida. Mas também aqueles que irão sofrer transtornos psicológicos por longo tempo.
Não podemos negar que esses fenómenos são consequências da falta de cuidado, das escolhas erradas que a humanidade, sobretudo os detentores do poder político e económico, vem fazendo nas últimas décadas. Escolher o lucro em vez do cuidado tem sido um caminho claramente errado, que deve levar a uma reflexão séria. Na medida em que a humanidade, ou para melhor dizer, aqueles que tem em suas mãos as decisões na política e no modelo económico, não perceberem a necessidade de uma mudança radical, a situação vai piorar até chegar num ponto sem retorno.
A solidariedade diante da atual situação é uma prioridade urgente, mudar o modelo social e económico é uma necessidade inadiável. Sem solidariedade o sofrimento iminente aumentará, sem uma mudança de modelo, esse sofrimento será algo crônico, que marcará a vida de milhões de pessoas, provocando situações dramáticas na vida de muita gente.
Todos somos desafiados a encarar uma situação que não vai ser resolvida com panos quentes. A busca por soluções tem que ser uma tarefa comum, que exige mudanças radicais, sobretudo no modelo económico, na forma de se relacionar com o meio ambiente, no modo de cuidar da casa comum. Não podemos ficar em sentimentos, somos desafiados a novas práticas. Sem isso, os desastres continuarão, cada vez com piores consequências.
É tempo de ajudar, de rezar, de nos conscientizar, mas sobretudo tempo de novos modos de vida, de uma conversão radical, que nos leve a descobrir que sem cuidado, a vida da humanidade e a sobrevivência do Planeta será cada vez mais difícil. A mudança é urgente, tem que ser para hoje, o Planeta não tem como esperar mais.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB