1º de junho: prontos para bater perna no shopping?

Fazemos parte de uma sociedade onde foi colocado na cabeça da gente que somos mais felizes quando consumimos mais, compramos mais, gastamos mais. Será que a gente não pode viver sem ir bater perna no shopping? Será que colocar em grave risco a própria vida e a vida dos outros não é motivo suficiente para ficar em casa? Quando a gente olha a lista de atividades que serão permitidas desde 1º de junho, a gente se questiona sobre se realmente tudo isso é necessário…

Editorial por Luis Miguel Modino*

Numa cidade onde numa semana, do dia 22 até o dia 28 de maio, o número de casos confirmados aumentou em 2.829, 17,9 % do total, e os óbitos aumentaram em 187, 14,2% dos 1.314 falecidos oficiais em Manaus em decorrência do COVID-19, a gente se pergunta pelos motivos, acho melhor falar de interesses de grupos de poder, que levaram o governador do Amazonas a decretar a reabertura gradual do comércio de atividades não essenciais, que irá ocorrer a partir do dia 1º de junho.

Fazemos parte de uma sociedade onde foi colocado na cabeça da gente que somos mais felizes quando consumimos mais, compramos mais, gastamos mais. Diante disso, vem na minha cabeça a frase de Santo Agostinho que disse que não é rico que tem muitas coisas e sim quem precisa de poucas. Será que a gente não pode viver sem ir bater perna no shopping? Será que colocar em grave risco a própria vida e a vida dos outros não é motivo suficiente para ficar em casa?

Quando a gente olha a lista de atividades que serão permitidas desde 1º de junho, a gente se questiona sobre se realmente tudo isso é necessário. Os números mostram que a curva de casos continua subindo, ainda mais se temos em conta o alto número de subnotificações existente. Numa cidade onde boa parte da população não usa máscara, onde guardar distância de segurança se faz muito complicado, diante desses números, será 1º de junho o momento mais oportuno de abrir o comércio?

Também não podemos esquecer os estudos que dizem que é previsto um novo pico explosivo de coronavírus no início de junho em Manaus, ainda mais intenso que o anterior, o que deve aumentar expressivamente com as medidas de afrouxamento no distanciamento social, o que pode fazer com que o número de pessoas contaminadas seja ainda maior.

Dentre as atividades liberadas pelo governador estão as Igrejas e templos, com 30% de ocupação, com eventos de 01 hora de duração e intervalo de, no mínimo, 05 horas entre um evento e outro. Diante dessa resolução, o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, não tem voltado atrás no último decreto promulgado, que suspendeu todas as celebrações públicas até o dia 23 de junho, deixando claro que todo cuidado quanto à saúde se faz necessário diante da pandemia. Nesse sentido, a suspensão da celebração dos sacramentos de maneira presencial tem contribuído grandemente para a diminuição do índice de propagação do vírus, segundo o arcebispo.

A defesa da vida sempre tem que ser a primeira opção para todo ser humano, ainda mais para quem acredita no Deus da Vida. Essa escolha tem que ser mais firme quando entra em jogo a vida dos mais humildes, que ninguém pode esquecer, eles serão quem mais vão colocar em risco suas vidas. Enquanto em outros países, onde os números são muito menores, as medidas são mais estritas, no Brasil, foco principal da doença neste momento, com o maior número de falecimentos nos últimos dias, o caminho escolhido é o contrário àquele que poderia se esperar diante dos fatos.

A consequência de um país onde o isolamento não está sendo assumido é que o próprio país fique cada vez mais isolado internacionalmente, restringindo a entrada de brasileiros em muitos países e se tornando manchete negativa na imprensa internacional. Aprender com os erros dos outros é um elemento que ajuda para escolher caminhos positivos, também no combate ao COVID-19, e para isso precisa de responsabilidade, tanto dos governantes quanto da sociedade. No final das contas, ir ao shopping bater perna ninguém é obrigado, mas é verdade que tem gente que vê isso como o ideal da felicidade.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.