Dizem que ser mulher é sinônimo de saber administrar inúmeras responsabilidades, mas, em meio à pandemia, a quantidade de atribuições aumentou ainda mais e nem sempre dá para romantizar essa capacidade.
Cada uma merece ter a sua história contada e homenageada, como as mulheres médicas que dão o máximo de si para salvar um paciente. Já parou para pensar naquelas que são médicas infectologistas, com papel extremamente importante para combater o vírus que ameaça o Planeta?
Imagina o trabalho de uma mãe que precisa trabalhar, mas com as aulas presenciais suspensas teve que dar conta de ser professora também em casa? Parou para pensar nas esposas que, além dos cuidados domésticos, como mulheres, também precisaram encontrar um tempo na rotina para cuidarem de si?
E se eu te contar que existe uma única mulher que é tudo isso ao mesmo tempo? Existe e ela mora em Manaus. É a Dra. Izabella Safe, de 35 anos, médica infectologista, doutora em Medicina Tropical. Ela é mãe da pequena Maísa, de 2 anos e 7 meses. Como se já não fosse o bastante, Izabella atua na capital que mais sofreu, e ainda sofre, com a pandemia.
Para manter o equilíbrio e conseguir exercer as diferentes funções, a filha frequenta a escola desde bebê. Izabella conta que, antes da pandemia, conseguia se organizar melhor com os horários, “pelo menos tentava, né?”, disse. Porém, com a chegada do coronavírus, a médica presenciou um “tsunami de pacientes” e passou a viver um conflito entre as diferentes funções que precisava dar conta naquele momento.
“Eu sou infectologista e, como tal, lógico que queria viver a pandemia de COVID-19, só que, ao mesmo tempo, a escola fechou. Entrei em conflito várias vezes. Viver o auge da minha carreira ou ser mãe? Salvar vidas ou salvar a rotina da minha filha? No início me atrapalhei, mas logo dei um grito de socorro para minha rede de apoio. Ponderei e chamei a minha mãe. Sabia do risco que ela correria e logo ela pegou Covid. Não tive escolha. Sorte a nossa que ela ficou bem.”
Foi com a ajuda da mãe que Izabella conseguiu organizar a rotina de atendimento aos pacientes e os cuidados com a filha. Ainda que tenha vivido momentos dramáticos durante a rotina da profissão e da maternidade, ela sente que é a mesma pessoa de antes de tudo isso acontecer, mas algumas mudanças são quase inevitáveis tendo em vista as experiências pelas quais a médica passou.
“Não acho que a pandemia tenha mudado as pessoas. Pelo contrário. É na crise que a gente conhece quem realmente elas são. Eu sou a mesma, lógico, que com uma bagagem profissional muito maior, um cabelo desarrumando e possivelmente com alguns quilos a mais”, afirmou.
Izabella viveu o dia 14 de janeiro na linha de frente, data que marca o esgotamento de oxigênio em Manaus e mobilizou o mundo inteiro para tentar salvar vidas no Amazonas. Unida à tantos outros profissionais, ela arregaçou as mangas e fez tudo o que podia naquele momento, ainda que pouco pudesse ser feito, como ela mesma disse. Isabella tenta lembrar desse dia de uma outra forma: “o dia em que diversas pessoas se uniram para ajudar […] E teve gente que ganhou alta depois. É assim que quero manter essa lembrança”.
Por várias vezes, Izabella pensou que não pudesse dar conta de tudo o que passou, afinal, “não se esquece um dia sem oxigênio de uma hora para outra”, mas ela conta com a ajuda de uma rede de apoio e muita, muita terapia.
Às outras mulheres que estão enfrentando essa pandemia, seja trabalhando para cuidar de outras pessoas ou cuidando da própria família, a médica infectologista e mãe da Maísa recomenda terapia. ”Acho que a prioridade agora é saúde mental. Toda mulher sabe que, para qualquer coisa, primeiro é preciso estar bem. Eu não mediria esforços para se presentear com esse cuidado”, finalizou.
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Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar