Quem não tem um teto para passar uma noite de sono em Manaus (AM), clama por ajuda. Em poemas e declamações, pessoas que utilizam os serviços do município para acolhimento de pessoas em situação de rua falaram sobre as principais necessidades e cobraram seus direitos, como o Reinaldo Bessa: “cidadania para o necessitado que morre em um país na fila do SUS não humanizado. Dizem que temos direitos e deveres assegurados, mas, a cada dia, um deles é retirado”.
“Posso ser assustador, mas sou humano como você, tenho coração e sinto fome e medo. Não sou invisível, não finja que não está me vendo. Se te pedem alguma coisa, tenha paciência. A quem tudo falta, um olhar compreensivo já ajuda”, declamou Francisco Chagas, um dos acolhidos pelos serviços do município.
As falas dos acolhidos foram durante a abertura da semana de ações dedicadas às pessoas em situação de rua no Centro Pop, localizado no bairro Petrópolis nessa segunda-feira (16). A campanha com o tema “Vida na Rua” é para ofertar mais serviços à essa população. Foi inaugurado um centro de mídias com três computadores para serem utilizados por quem passa pelo local.
Políticas públicas comprometidas
Manaus não possui um censo para mensurar a demanda dos que precisam de acolhimento. E mesmo que houvesse, a titular da Semasc (Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania), Jane Mara Moraes, diz que município está impossibilitado de implantar políticas públicas em geral. Isso por causa de uma PEC aprovada no Governo Michel Temer que congelou os gastos a partir de 2016 por 20 anos.
“É fato que precisamos ampliar espaços de acolhimento. Existe uma determinação do Governo Federal, a partir de uma Emenda Constitucional 95, que impede implantação ou expansão qualificada de qualquer unidade, então isso dificulta o nosso trabalho. Dificulta, inclusive, o processo de atendimento porque não está autorizado o gasto com políticas públicas”, diz a secretária.
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Com a pandemia e mais pessoas necessitadas, o colapso é iminente. “Quando você pensa nas demandas em relação ao recurso que precisa ter, a gente não consegue garantir direitos. Quando completar 10 anos será feita uma análise, mas até lá, com pandemia, desemprego e outros fatores que contribuem para aumentar o número de pessoas em situação de rua, vamos entrar em colapso pela ausência de repasse de recursos para poder ampliar unidades”, explica Jane Mara.
Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar