Editorial por Luis Miguel Modino*
Visitando as comunidades do Rio Negro, algo que era muito difícil nos últimos meses, a gente vai escutando histórias da seca, de como o povo foi superando as consequências da maior estiagem em mais de um século. As mudanças climáticas não são uma história que algumas pessoas falam, algo que a gente assiste na TV ou lê na internet, é uma realidade próxima de nós, que condiciona nossa vida.
Quando a água é o único modo de se deslocar, sua falta faz com que as pessoas fiquem isoladas ou com grande dificuldade para se locomover, o que faz que o sofrimento aumente, ainda mais as pessoas idosas ou que tem alguma doença. Além da falta de recursos materiais, o povo se depara com esse medo de não saber o que fazer diante de muitas situações que fazem parte de sua vida no dia a dia.
Nossa falta de cuidado do Planeta repercute na vida de todos, mas tem pessoas que são atingidas em maior medida, algo que tem que nos levar a refletir como sociedade, como humanidade. Eu tenho consciência disso? Me preocupam as situações que outras pessoas sofrem e que são consequência de minha falta de compromisso no cuidado da casa comum?
O Planeta, a Natureza, a Amazônia não é um poço sem fundo de onde podemos tirar recursos a vontade, tudo tem um limite. Nós mesmos podemos colocar esse limite para evitar que esse limite nos seja imposto e o sofrimento de muita gente se torne algo irremediável. Deus perdoa sempre, o ser humano perdoa às vezes, a Natureza não perdoa nunca. Essa afirmação é algo que a gente nunca pode esquecer.
O que nos leva a ter essa atitude de falta de cuidado? O que fazer para que todos possamos tomar consciência da necessidade de zelar por aquilo que Deus colocou ao dispor da humanidade, que tem sido cuidado pelos nossos ancestrais e que nós temos a obrigação de cuidar para que as gerações futuras possam continuar disfrutando daquilo que hoje nós estamos usufruindo?
As situações concretas que fazem parte da vida do povo, que fazem parte da nossa própria vida deveriam nos levar a refletir, a olhar para dentro de nosso coração e poder assim aprender a cuidar. Quando a dificuldade e o sofrimento dos outros não nos atinge temos que refletir sobre nossa condição humana, nos questionar se ainda somos humanos ou estamos dominados por sentimentos animais.
As dificuldades diminuíram em grande medida, mas imaginar o que tem acontecido na vida do povo durante a prolongada e extrema estiagem é algo que nos abre os olhos e nos mostra que para muitas pessoas a vida não é fácil e que as dificuldades aumentam em consequência da falta de compromisso de todos. Vamos tomar consciência disso, a maior falta de compromisso, maior vai ser o sofrimento.
Mais uma oportunidade para pensar e refletir, para entender e assumir nossa responsabilidade em algo que é de todos e que quando deixa de ser considerado de todos tem consequências mais graves. Não olhe para o outro lado, o que está acontecendo é sua responsabilidade, minha responsabilidade, nossa responsabilidade.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB