Artigo: O caos que se tornou o trânsito de Manaus

Por Professor Mário Ricardo – Especialista em Gestão de Trânsito

A mobilidade urbana em grandes centros é um desafio constante — e em Manaus, essa realidade se torna cada vez mais crítica. O crescimento acelerado da frota de veículos, a precariedade do transporte público e a falta de um planejamento urbano eficaz têm transformado as ruas da capital amazonense em verdadeiros campos de batalha diários, onde motoristas, pedestres e ciclistas disputam espaço em meio ao caos.

De acordo com dados recentes do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM), a cidade ultrapassou a marca de 1 milhão de veículos registrados, incluindo carros de passeio, motocicletas, caminhões, ônibus e carretas. Considerando uma população de aproximadamente 2,27 milhões de habitantes, isso significa que quase um a cada dois manauaras possui um veículo motorizado próprio, sem contar o número crescente de usuários de aplicativos de transporte.

O transporte público coletivo, que deveria ser uma solução, infelizmente tornou-se um agravante. Ônibus em péssimo estado de conservação, ausência de ar[1]condicionado — essencial em uma cidade de clima equatorial —, superlotação nos horários de pico e uma tarifa elevada em relação à qualidade oferecida fazem com que muitos usuários optem por alternativas individuais de locomoção. O resultado? Mais veículos nas ruas, mais congestionamentos, mais estresse e mais acidentes.

Para lidar com essa realidade, é urgente que o poder público implemente medidas integradas e eficazes. Uma sugestão viável seria a adoção de três turnos de trabalho para os agentes de trânsito, distribuídos ao longo do dia, garantindo cobertura nos horários de maior fluxo. A presença ativa desses profissionais nas vias é fundamental para inibir infrações, orientar motoristas, fiscalizar áreas críticas e agilizar a fluidez do tráfego. A ausência deles é sentida especialmente em cruzamentos movimentados, saídas de escolas, avenidas de grande circulação e pontos turísticos.

No entanto, não basta apenas investir em infraestrutura e fiscalização. É indispensável promover uma mudança de cultura entre os condutores. Respeitar os limites de velocidade, obedecer à sinalização, ceder a passagem quando necessário, evitar bloqueios de cruzamentos e jamais dirigir sob efeito de álcool ou distrações digitais são atitudes que fazem toda a diferença. Um trânsito mais seguro começa por cada um de nós.

O caos atual é reflexo de uma somatória de omissões e escolhas equivocadas ao longo dos anos. Mas é possível — e necessário — transformar essa realidade. Com planejamento, responsabilidade e comprometimento, Manaus pode sair do engarrafamento e avançar rumo a uma mobilidade mais inteligente, segura e humana.

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