Editorial por Luis Miguel Modino*
Nesta semana, no dia 23 de setembro, era comemorado o Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Pessoas. A data, que começou a ser celebrada em 1.999, após a Conferência de Mulheres, que aconteceu em Dhaka, Bangladês, lembra a Lei Palacios, promulgada na Argentina em 23 de setembro de 1913. Essa lei foi a culminação de uma longa luta contra a escravidão de mulheres para o exercício forçado da prostituição.
O tráfico de pessoas é uma realidade ainda muito presente no mundo, que junto com o tráfico de drogas e de armas produzem altos dividendos. As vítimas, quase sempre, são pessoas com alta vulnerabilidade, vítimas da pobreza, da discriminação, da desigualdade de gênero, da violência contra as mulheres, da falta de acesso à educação, dos conflitos étnicos e dos desastres naturais, dentre outras causas.
O Papa Francisco tem condenado repetidas vezes o tráfico humano, que ele considera como um crime vergonhoso, fazendo um chamado para que a sociedade em seu conjunto, mas também cada pessoa, seja consciente que o tráfico de pessoas é uma realidade que está presente no meio de nós, que atinge ou pode atingir pessoas que fazem parte do nosso cotidiano. Diante disso a gente não pode ficar olhando para o outro lado, fazendo de conta que nada está acontecendo.
A Amazônia é uma das principais rotas de tráfico de pessoas, mas também de recrutamento das vítimas, sempre enganadas com promessas que nunca irão se tornar realidade. São muitas as mulheres, inclusive crianças e adolescentes, que são traficadas na região amazônica, vítimas do tráfico nacional e internacional. Isso deve nos levar a refletir e assim poder enfrentar essas situações que provocam tanta dor na vida das pessoas e das famílias, especialmente dos mais pobres.
Neste tempo de pandemia, longe de diminuir esse crime, o tráfico de pessoas tem aumentado, também na Amazônia. Poderíamos pensar que a quarentena, as restrições de viagem e limitações às atividades econômicas e da vida pública, as medidas de fiscalização e o aumento da presença policial nas fronteiras e nas ruas, parecem dissuadir o crime, mas nada mais longe da realidade. Os criminosos estão ajustando seus modelos de negócio para a realidade que hoje está presente na vida da gente, especialmente a través das modernas tecnologias de comunicação. A internet está se tornando um veículo cada vez maior da exploração sexual e do tráfico humano. No lado contrário, a Covid-19 tem diminuído a capacidade das autoridades de prestar serviços essenciais às vítimas desse crime.
Identificar as vítimas do tráfico de pessoas sempre tem sido uma tarefa difícil, uma realidade que tem se complicado ainda mais neste tempo de pandemia de Covid-19, que tem ajudado os traficantes a esconder seus crimes. Ao mesmo tempo, as vítimas sempre tem múltiplas dificuldades para denunciar que estão sendo exploradas, uma realidade que nos últimos meses tem se complicado. Isso deve nos levar a exigir que as autoridades nacionais e internacionais redobrem os esforços para o combate do crime do tráfico de pessoas.
O Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Pessoas deve ser mais uma oportunidade para sermos conscientes de que nossa falta de compromisso, nosso silêncio, nosso olhar para o outro lado, está facilitando a ação dos criminosos e potencializando o sofrimento das vítimas. Essas atitudes, muitas vezes nos tornam cúmplices e nos afastam daqueles que sofrem. Superar qualquer tipo de crime, especialmente aqueles que destroem vidas inocentes, depende muitas vezes do empenho e compromisso de cada um e cada uma de nós, também de mim, também de você.
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.