O 22º DIP (Distrito Integrado de Polícia) recebeu quatro denúncias de maus tratos contra crianças autistas em uma clínica particular de Manaus. A suspeita é a fisioterapeuta Samia Watanabe, de 44 anos. Embora a Polícia Civil informe que a autora já iniciou a responsabilização pelo crime, os pais querem a prisão da terapeuta.
Paulo Nobre é pai de um menino de 4 anos que fez acompanhamento por um ano na clínica envolvida. Além do tratamento não avançar, ele notou mudanças de comportamento no filho.
“É claro que a agressão me machucou bastante, mas a parte que deixa meu filho acuado, é uma criança ativa. Quando deixa 50 minutos sentado, nenhum de nós passa por isso, ficar 50 minutos obrigado, meu filho fica acuado. A gente conhece nosso filho de olhar. A gente começou a observar reações, gestos, coisas que ele nunca apresentou quando não fazia terapia. São estereotipias, gesto de bater a mão, de ficar pulando várias vezes, isso demonstra o quanto ele estava estressado, ansioso”, conta.
A psicóloga Aline Padilha destaca que as consequências são graves. Quando uma criança passa por maus tratos, a prática pode repercutir no desenvolvimento na adolescência e na vida adulta. “É importante que os pais e responsáveis possam observar a mudança no comportamento. A criança que sofre qualquer tipo de maus tratos, seja violência física, sexual, psicológica, muda o seu padrão de comportamento. É importante os pais conhecerem como os filhos funcionam e observar. Quando ele começa a trazer comportamentos diferentes daqueles que ele, habitualmente, tinha, isso é um sinal”, explica.
A mudança no padrão de comportamento ocorre com crianças autistas, assim como as crianças típicas. Mesmo com a dificuldade de comunicação, a especialista informa que a criança atípica irá apresentar algum sinal e é importante ficar atento a qualquer tipo de mudança.
“A criança do espectro autista tem uma condição que altera o desenvolvimento padrão da sua linguagem, interação social, processo de comunicação e de comportamento social. Se você percebe a sua criança reagindo, ficar com medo, se esquivando de ficar naquele lugar. A criança autista já tem esse comportamento de esquiva. Se ela sofre algum trauma por conta de algum mau trato físico ou psicológico ela também vai demonstrar um certo receio de estar naquele local”, diz Aline Padilha
A cidade de Manaus registrou 247 ocorrências de maus tratos contra crianças e adolescentes de janeiro a agosto de 2021. Em todo ano passado foram 413 casos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.
Ana Maria Reis / Rádio Mar