O que era pra ser uma região tranquila e pacata se transformou em campo de guerra. No Cacau Pirêra, distrito de Iranduba (AM), a população está assustada com o que aconteceu na última terça-feira (27), com a morte de Gabriel Santos, de apenas 12 anos. O corpo dele foi encontrado no rio com pelo menos quatro perfurações de arma de fogo. Segundo a Polícia Civil, ocorreu uma operação e houve troca de tiros, mas os moradores contam outra história.
“A polícia entrou aqui em sete carros, entraram nessa rua [Rua Nove], seguiram, chegaram na casa do rapaz já atirando na casa de um bananeiro [vendedor ambulante]. Quando eles chegam, a cachorra ‘pitbull’ sai e eles matam a cachorra. Em seguida, começam a atirar para trás. Os meninos que estão na casa e escutam os tiros, saem correndo desesperados porque os tiros são dentro de casa e pulam dentro da água. O padrasto do menino também pula na água com medo de morrer porque aqui a gente não sabe se é bandido ou se é polícia”, afirmou um morador que não quis ser identificado.
O tio de Gabriel, Paulo Henrique, disse que os supostos policiais não estavam fardados e as viaturas não eram caracterizadas.
“Foi a Polícia Civil, disseram que receberam uma denúncia e vieram aqui nessa casa. Chegaram correndo, atirando, dizendo que queriam armas e drogas e havia pessoas foragidas. Quem estava foragido? Aqui só tem três crianças, minha irmã, meu cunhado e meu pai ao lado. Por que não esperaram e revistaram todo mundo? Chegaram atirando! Não vieram policiais no dia do tiroteio, quando tinha um bocado de gente matando. No outro dia, mataram uma criança inocente, o moleque estava estudando”, disse.
Veja o local onde ocorreu o crime:
Após a ação, o padrasto de Gabriel, identificado como Danrley, foi detido em flagrante com uma arma de fogo. Segundo a família, a arma não era dele. “Plantaram uma arma no meu cunhado. Ele não tem passagem pela polícia”, afirmou.
Na noite anterior à morte do menino, uma lanchonete no mesmo bairro foi alvo de criminosos. A polícia informou e moradores confirmaram que as características do crime são de execução, acerto de contas pelo tráfico. Um homem morreu. A população diz que a família da criança não tem qualquer relação com que ocorreu naquele dia.
“Por que não vieram também na lanchonete? No dia que aconteceu a chacina nenhuma polícia apareceu aí, do nada, vieram atirando na casa desse rapaz que era trabalhador, até onde a gente conhecia”, contou uma testemunha que não se identificou.
A moradora do Bairro Cidade Nova, onde ocorreram os crimes no Cacau Pirêra, também relata que não houve troca de tiros. “Já chegaram atirando, ninguém trocou tiro com eles não”, disse.
Mortes ocorreram durante operações policiais
Durante a presença da reportagem na manhã dessa quarta-feira (28), onde ocorreram as mortes e na área portuária, não foi identificada presença policial. No mesmo dia, os irmãos Darlison e Jadilson dos Santos foram mortos, dessa vez, na sede do município de Iranduba. A Polícia Civil informou que a ocorrência foi durante troca de tiros em operação deflagrada pela Polícia Militar.
Enquanto isso, o que se vê é uma população desacreditada na segurança pública. “Não pense que a polícia protege ninguém aqui não. Aqui não existe proteção de polícia, anoitece e amanhece e é melhor confiar na malandragem do que na polícia”, relatou um morador.
“Até a população está com medo de pedir socorro para a polícia, porque, quando chega, é desse jeito. Está aí uma família desesperada, uma mãe, por falta de um filho”, disse outro jovem que mora na área.
Ouça os relatos na reportagem:
O que dizem as autoridades
Em relação à morte de Darlison e Jadilson em Iranduba, a Polícia Civil informou que os irmãos eram investigados pelos crimes de homicídio, roubo e tráfico de drogas. Os dois foram atingidos durante intervenção policial, chegaram a ser socorridos e encaminhados ao Hospital Hilda Freire, mas já chegaram sem vida.
O procedimento foi encaminhado à Corregedoria Geral do Sistema de Segurança que vai apurar as circunstâncias dos fatos. Questionada sobre cada uma das denúncias relatadas na reportagem pelos moradores do Cacau Pirêra, a Secretaria de Segurança Pública informou, em nota, que o secretário de Segurança, Louismar Bonates, determinou à Corregedoria a abertura de procedimento para investigar o caso.
O corpo do menino Gabriel foi submetido aos exames de necropsia para a identificação legal das causas da morte.
Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar