Massacre no Rio Abacaxis completa um ano sem punir responsáveis; familiares cobram respostas

Neste dia 4 de agosto, o massacre de indígenas e ribeirinhos na região do Rio Abacaxis, no Amazonas, completa um ano. Para combater a impunidade, a Arquidiocese de Manaus, o Conselho Indigenista Missionário, Comissão Pastoral da Terra e outras entidades civis realizam nesta semana o seminário “Um ano do massacre do Abacaxis: Haverá justiça?”. Durante o primeiro dia, nessa terça-feira (03), familiares e lideranças cobraram justiça e relataram consequências da série de  conflitos, que tiveram participação da Polícia Militar.

“Nós vivíamos caçando, pescando, plantando, nossas crianças brincando e hoje perdemos essa liberdade dentro do nosso próprio território. As pessoas que viveram como nosso posso viveu esse massacre, hoje ainda vive com o terror, o medo, as ameaças e invasões”, afirma o Tuxaua Geral dos povos indígenas Maraguá, Jair Reis.

Enterro de vítimas da chacina do rio Abacaxis, em Nova Olinda do Norte (Foto: CPT Nacional)

Dois indígenas da etnia Munduruku e três ribeirinhos nas Terras Indígenas Maraguá e Coatá-Laranjal e da região dos rios Abacaxis e Marimari, nos municípios de Borba (AM) e Nova Olinda do Norte (AM). Desde então, processos judiciais e as investigações foram instaurados, mas ainda não há respostas.

Também há relatos de tortura, perseguição e desaparecimento de dois adolescentes. O seminário também teve a participação do Arcebispo Metropolitano de Manaus. “Nós não podemos deixar morrer essa questão, não podemos deixar desaparecer, não podemos deixar, porque passou o tempo , então se esqueceu. E não podemos deixar colocar essas dificuldades, injustiças e mortes debaixo do tapete pelo tempo que vai correndo muito rapidamente. Um ano já passou, esperemos que não se passe um outro ano sem a conclusão do processo iniciado”, afirmou Dom Leonardo Steiner.

Arcebispo de Manaus participou do Webinário “Um ano do massacre do Abacaxis: Haverá justiça?”. Foto: Reprodução / Cimi

Memória

O presidente da comunidade ribeirinha Monte Horebe, em Borba, Antônio Vidal perdeu três membros da família e cobra uma base móvel da Polícia Federal na região. “Nunca tinha visto na minha vida, um tanto de policial ao invés de ir acalmar, fazer um conflito maior ainda”

O conflito começou em julho do ano passado, em meio à pandemia, quando um grupo de turistas tentava realizar pesca esportiva na região. O então secretário-executivo do Fundo de Promoção Social do Governo do Amazonas, Saulo Costa, estava entre os turistas e teria sofrido um tiro no ombro. Eles saíram da região sob protestos e Saulo ameaçou retornar em retaliação.

No dia 3 de agosto, os conflitos se intensificaram com a chegada de Policiais Militares do Comando de Operações Especiais sem identificação. No dia seguinte, aproximadamente, 50 PMs foram enviados ao Rio Abacaxis pela Secretaria de Segurança Pública. Entre os mortos estão Josivar e Josimar, que eram responsáveis por levar os alunos da comunidade para a escola.

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Em alguns casos, os familiares não receberam o resultado dos exames de DNA e não sabem do paradeiro dos restos mortais. Lideranças Maraguá relatam que continua a movimentação de pessoas desconhecidas na área, principalmente no período noturno. As lideranças cobram o fechamento do Rio Abacaxis para qualquer tipo de turismo.

Investigações

As investigações em torno desse caso estão concentradas na segunda instância da Justiça Federal. A Procuradoria Regional da República da 1ª Região informou que o procedimento está em segredo de justiça e não tem autorização para fornecer informações.

O Governo do Amazonas ainda não respondeu quais providências foram ou serão adotadas. O Seminário continua nesta quarta-feira de forma presencial no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental – SARES, na Rua Leonardo Malcher, bairro Aparecida, em Manaus. Haverá uma celebração ecumênica em homenagem às vítimas do massacre, às 9h30.

Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar