Editorial, por Luis Miguel Modino*
A Solenidade de Corpus Christi é a Festa da Eucaristia. Neste dia somos desafiados a refletir sobre o que significa a Eucaristia na vida do povo católico e as dificuldades para que as pessoas possam celebrar a Eucaristia em alguns lugares. Muitas comunidades da periferia de Manaus, do interior da Amazônia, de muitas regiões do Brasil e do mundo, não têm a possibilidade de celebrar a Eucaristia cada domingo.
Um dos mandamentos da Igreja fala da necessidade de participar da celebração da Missa todos os domingos. Diante dessa situação, como fazer realidade nessas comunidades esse mandamento? Como continuar sustentando a afirmação do Concílio Vaticano II que diz que a Eucaristia é a fonte e o ápice da vida cristã?
O Sínodo para a Amazônia refletiu sobre essa realidade, propondo caminhos para que as comunidades possam celebrar a Eucaristia no dia do Senhor. Mas as resistências são grandes, não é fácil dar passos que ajudem no caminhar da Igreja, para fazer realidade aquilo que a própria Igreja sustenta em seu Magistério, em seus ensinamentos.
Presidir a celebração da Eucaristia é algo que compete aos presbíteros e bispos, mas a falta de padres em muitas regiões é uma realidade que nos desafia. Também deve ser refletido sobre a distribuição do clero. Enquanto algumas comunidades contam com a presença de vários ministros ordenados, muitas outras tem que dividir o padre entre dezenas de comunidades. Também a falta de recursos, de disposição para chegar nos locais mais distantes, são situações que dificultam a possibilidade dessas comunidades poder celebrar a Eucaristia.
Mas estamos diante de comunidades que valorizam grandemente a celebração da Eucaristia. Para as comunidades do interior, também na arquidiocese de Manaus, a Missa é momento de grande importância. O encontro em volta do pão partilhado, do sangue entregado em favor de todos, alimenta a vida de fé daqueles que, mesmo na dificuldade, vivenciam sua fé nesses locais. A Missa não é algo monótono, é sinal da presença do ressuscitado, que nos leva a fazer memória do mistério da fé que é celebrado.
Daí a pergunta que nos leva a questionar até quando teremos comunidades sem possibilidade de celebrar a Eucaristia assiduamente? Encontrar novos caminhos para a Igreja, um dos propósitos do Sínodo para a Amazônia, é uma realidade que precisa de respostas, não só na região amazônica, mas em muitos lugares do mundo, em muitas comunidades eclesiais, que gostariam que a Eucaristia fosse celebrada com maior frequência.
Aproveitemos a Solenidade de Corpus Christi para refletir sobre a Festa da Eucaristia, mas como uma festa para todos e todas, como um alimento cotidiano, que fortalece a vida de fé de todas as comunidades. O local onde as pessoas moram não deveria ser empecilho para que elas possam participar assiduamente da fonte e o ápice da vida cristã.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB