Editorial: Vítimas do tráfico humano, cuida-las é minha obrigação

Por Luis Miguel Modino*

Cuidar dos outros, especialmente dos mais fracos e vulneráveis é um elemento que deveria estar presente em cada ser humano, mas esse cuidado tem que ser uma obrigação na vida dos cristãos. Quem não cuida, quem não ama, algo que pode ser definido como a atitude fundamental do Deus de Jesus Cristo, não é discípulo, não é cristão.

Desde 2015, uma data instituída pelo Papa Francisco, que tem no cuidado das vítimas do tráfico de pessoas uma das suas prioridades, no dia 8 de fevereiro acontece o Dia Mundial de Oração contra o Tráfico de Pessoas. Na festa de Santa Josefina Bakhita, alguém que sofreu as consequências do trafico humano, a Igreja deixa claro que tem lado, o lado das vítimas.

As mais ameaçadas pelo crime do trafico humano são as mulheres e as crianças, representando 72% das vítimas. Podemos dizer que as crianças e as mulheres são as mais suscetíveis a exploração de trabalho precário e abusos. Estamos diante de uma realidade antiga, mas que a pandemia da Covid-19 aumentou. O desemprego, a fome, a violência doméstica, dentre outras, são situações que aumentam a vulnerabilidade e, em consequência, a possibilidade de cair nas redes do tráfico de pessoas.

Durante muito tempo, o tráfico de pessoas foi uma realidade esquecida, também pela Igreja católica. Aos poucos, e aí a gente tem que reconhecer a importância do impulso do Papa Francisco, a Igreja vai assumindo essa causa como própria. No Brasil, o primeiro passo decisivo foi dado pela Vida Religiosa, criando a Rede um Grito pela Vida, que em 2022 comemora 15 anos de caminhada e de cuidado com a vida de mulheres, adolescentes e crianças.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil também se fez consciente da importância de combater esse crime e criou a Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfretamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), promovendo essas temáticas na vida da Igreja do Brasil.

O tema para 2022 é “A Força do Cuidado – Mulheres, Economia, Tráfico de Pessoas”, algo que tem levado o Papa Francisco a afirmar que “por tudo isso, uma economia sem tráfico de pessoas é uma economia corajosa – é preciso coragem. A coragem de conjugar o lucro legítimo com a promoção do emprego e de condições dignas de trabalho. Em tempos de grande crise, como o atual, essa coragem é ainda mais necessária”.

Ninguém pode ser tratado como mercadoria, e isso é algo que deve ser assumido por uma sociedade onde o lucro se tornou algo que marca a maioria das relações. Por isso é inadiável a reflexão, oração e mobilização para conhecer, debater e enfrentar a realidade de milhares de pessoas submetidas a trabalhos análogos a escravidão e outras formas de exploração.

Trata-se de cuidar, das pessoas, especialmente das vítimas, da casa comum, da vida. Isso não é tarefa dos outros, é minha missão, minha obrigação, meu desafio que devo enfrentar cada dia. Cuidar nos faz humanos, mas também divinos, semelhantes daquele que cuida e ama sem medida, também da gente.

Ouça:

*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB