Editorial – Umas festas juninas diferentes: cuidar do outro é a maior alegria

Editorial por Luis Miguel Modino*

Brasil é um país multicultural, onde as tradições se misturam entre as diferentes regiões, fruto de migrações históricas que levaram elementos que faziam parte da vida do povo, enriquecendo àqueles que se tornaram novos companheiros de vida dos migrantes. Nos dias em que celebramos a Semana do Migrante somos desafiados a descobrir que a chegada do diferente sempre é motivo de enriquecimento em todos os aspectos da vida, também na cultura.

 A Amazônia tem sido tradicionalmente ponto de chegada de migrantes de todos os cantos do Brasil e de muitos países do mundo, que misturaram suas tradições com aquelas que faziam parte da vida dos povos originários da região. O resultado tem sido uma cultura rica em tradições culturais que tem ajudado a entender essa dinâmica de aprendizado e enriquecimento mutuo.

 Como nos fala o Papa Francisco em Querida Amazônia, somos chamados a fazer realidade um encontro intercultural. Ele nos diz que “é a partir das nossas raízes que nos sentamos à mesa comum, lugar de diálogo e de esperanças compartilhadas. Deste modo a diferença, que pode ser uma bandeira ou uma fronteira, transforma-se numa ponte. A identidade e o diálogo não são inimigos. A própria identidade cultural aprofunda-se e enriquece-se no diálogo com os que são diferentes, e o modo autêntico de a conservar não é um isolamento que empobrece”.

 Uma dessas tradições, muito presentes no Nordeste brasileiro, são as festas juninas, uma tradição que viajou com os muitos migrantes nordestinos que chegaram na floresta amazônica nos últimos séculos. A gente vê essa tradição muito presente na cidade de Manaus, onde Santo Antônio, São João e São Pedro, se tornaram motivo de devoção e diversão, de encontro familiar, entre amigos e vizinhos, que brincam com alegria, lembrando tradições que sempre fizeram parte da vida dos seus antepassados.

 A pandemia que estamos vivendo, cada vez mais presente na sociedade brasileira, próximos de ultrapassar um milhão de contagiados e 50 mil falecidos, segundo dados oficiais, os reais nunca ninguém vai conhecer, pois tem números que atrapalham os interesses daqueles que vem a vida em função de interesses numéricos, essa pandemia do COVID-19 também tem mexido com a festa do povo.

 O momento que estamos vivendo tem que nos levar a refletir sobre a necessidade de entender a importância do cuidado com a vida, nem só da gente como a vida dos outros. Se encontrar com aqueles que a gente gosta e desfruta da sua companhia sempre é uma coisa que nos alegra, mas a maior alegria é saber que todos aqueles que são importantes na nossa vida se encontram bem. Mas isso precisa de cuidado, de entender que vida é bem mais do que satisfazer desejos imediatos.

 Nunca a diversão da gente pode ser motivo de problema para os outros, sempre é bom cuidar dos outros, especialmente dos mais fragilizados. Aprendamos com as novas situações e experiências que o momento histórico atual está colocando na nossa vida. Desfrutemos na medida das possibilidades que hoje a gente tem, pois sempre é tempo de festa, também quando a gente não pode celebra-la do jeito que sempre fez.

Ouça:

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.