Editorial: Trindade, comunhão, unidade na diversidade

Editorial Por Luis Miguel Modino*

Unidade na diversidade, isso é o que define a Santíssima Trindade, a festa que vamos celebrar no próximo domingo, 30 de maio. Essa mesma unidade na diversidade é um elemento que está presente na sinodalidade, o modo de ser Igreja que o Papa Francisco está nos propondo, uma reflexão que vai estar presente na vida da Igreja católica nos próximos anos.

Na última sexta-feira, 21 de maio, o Santo Padre convocava oficialmente o Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, que será aberto no próximo mês de outubro e que vai ter sua assembleia sinodal em outubro de 2023. Ao longo de dois anos somos chamados a entrar no caminho da comunhão, um desafio secular na vida da humanidade.

Podemos caminhar juntos, que é o que significa sinodalidade, mesmo sabendo que somos diferentes? Estamos dispostos a entrar nessa dinâmica de comunhão? Podemos dizer que essa é uma necessidade cada vez mais urgente, ainda mais numa sociedade cada vez mais dividida e enfrentada?

Ninguém pode obviar que a divisão é instrumento de dominação de um povo que esquece os inimigos comuns e se enfrenta por questões que não ajudam a superar as ameaças que se cernem sobre o a totalidade. Essa é uma dinâmica instigada em espaços de poder político, econômico, inclusive religioso, que deve ser ignorada, na tentativa de fazer realidade essa vida em comunhão.

Quem se diz cristão, a gente que se diz católico, deveria fomentar essa vida em comunhão, essa dinâmica sinodal, esse empenho em caminhar juntos, como modo de vida cotidiano. Assumir esse modelo faz com que a gente possa se tornar testemunho para a convivência social. Num país cada vez mais próximo dos 500 mil mortos pela Covid-19, muitos deles consequência da falta de sentimentos comuns, de empatia pelos outros, somos chamados a refletir e assumir a urgência dessa atitude.

Deus não é uma ideia, ele não é algo que fica no campo do pensamento, acreditamos num Deus encarnado, presente na vida da humanidade, que acompanha e orienta o decorrer da história. Não acreditamos num Deus que fica acima e sim num Deus que fica no meio da gente, que inclusive assume ser o último, o menor de todos. A comunhão se faz mais fácil quando a gente se reconhece pequeno, limitado, quando a gente experimenta a necessidade do outro para alcançar a plenitude.

Não deixemos que aquilo que a gente celebra fique como algo que não mexe com a vida da gente. Acreditar em Deus é traze-lo para o dia a dia, deixar que Ele se faça presente em nosso modo de reagir diante de tudo o que acontece, das decisões que tomamos. É tempo de comunhão, de caminhar juntos, de entender que juntos somos mais e que o testemunho dos outros nos abre à possibilidade de sermos melhores.

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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB